quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Mulheres

     








 

 1.    A mulher e a esterilidade

 

2.    O evangelho de Tiago – Ana mãe de Maria e avó de Jesus

 

3.    A mulher e o escravo. Qual era a diferença?

 

4.    A mulher e a Torah

 

5.    A mulher, o Templo e a sinagoga. O minyiam

 

6.    A mulher e o testemunho num tribunal judaico

 

7.    A mulher e a benção por não ter nascido mulher

 

8.    A mulher e a lei do puro e impuro

 

9.    Defeitos físicos na Torah

 

10.   A mulher e o divorcio

 

11.  As mulheres e os textos  do novo testamento

 

12.  Alterações nos textos do NT envolvendo mulheres

 

13. Conclusão: As mulheres Jesus e o Novo Testamento

 

1)  A mulher e a esterilidade

 

Êxodo 15:26  e disse: se ouvires atento a voz do Eterno, teu Elohim, e fizeres o que é reto diante dos seus olhos, e deres ouvido aos seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios; pois eu sou o Eterno, que te sara.

 

Êxodo 23:26  na tua terra, não haverá mulher que aborte, nem estéril; completarei o número dos teus dias.

 

Deuteronômio 7:14  bendito serás mais do que todos os povos; não haverá entre ti nem homem, nem mulher estéril, nem entre os teus animais. 15  o Eterno afastará de ti toda enfermidade; sobre ti não porá nenhuma das doenças malignas dos egípcios, que bem sabes; antes, as porá sobre todos os que te odeiam.

 

A respeito dos textos acima, podemos tirar algumas conclusões. A primeira é que os textos destes trechos da torah davam garantias ao povo que Deus os livraria de todas as enfermidades que ele havia enviado sobre os egípcios, dentre estas enfermidades estava a esterilidade tanto do homem quanto da mulher. Porém aqui cabe uma pergunta crucial que hoje podemos fazer. Quando um casal não gerava filhos quem era a pessoa estéril, o homem ou a mulher? Como saber quem seria o estéril? Bom aqui se introduziu o costume das concubinas, ou seja, uma segunda esposa que às vezes poderia ser uma serva ou escrava da família, então o homem a tomaria como mulher se deitaria com ela e se ela ficasse grávida estaria provado que a estéril era a mulher, ou se a concubina não ficasse grávida ficaria provado que era o homem que era o estéril. Aqui se pode perceber a problemática do assunto e as conseqüências que isto trazia na maioria das vezes para as mulheres. Ficando caracterizado que a esterilidade era da mulher, ela era tida como uma terra estéril, e terra estéril era sinônimo de terra maldita, em outras palavras, a mulher passava a ser discriminada na comunidade ou tribo em que vivia porque era mandamento de Deus se eles fossem fieis e cumprissem seus mandamentos não haveria pessoas estéreis entre eles, logo a esterilidade era vista como conseqüência do pecado, ela pecou pro isto é estéril, além da humilhação de ser vista como uma terra maldita, por conseqüência da esterilidade a mulher era vetado o direito de entrar no Santuário ou tabernáculo em Shiló e depois no Templo em Jerusalém conforme texto abaixo:

 

Deuteronômio 23:1  aquele a quem forem trilhados os testículos ou cortado o membro viril não entrará na assembléia do Senhor.

 

É lógico que este texto fala do homem, ou seja, aquele homem que fosse castrado, ou tivesse o membro viril cortado não podia entrar na congregação de Israel, congregação de Israel aqui se entende o ajuntamento para celebrar culto ao Eterno, ou seja, o homem não podia entrar no Santuário/Tabernáculo na época deste e no Templo quando o mesmo passou a substituir o Santuário. Mais o que tem a ver alhos com bugalhos? Espere um pouco! Não tire conclusões precipitadas. Vamos raciocinar juntos. O homem não podia entrar no templo por ser castrado e conseqüentemente pela sua esterilidade, ou seja, não podia gerar filhos e descendentes na terra de Israel. Este mesmo texto se aplica para a mulher em virtude da esterilidade. Leia abaixo o texto do evangelho apócrifo de Tiago sobre a mãe de Maria e avó de Jesus.

 


 

2)  O Evangelho de Tiago – Ana Mãe de Maria E Avó de Yeshua


 

CAPITULO II

     1. Ana lamentava-se e gemia dolorosamente, dizendo:

     — Chorarei minha viuvez e minha esterilidade.

     2. Chegou, porém, a grande festa do Senhor e disse-lhe Judite, sua criada:

     — Até quando vais humilhar tua alma? Já é chegada a festa maior e não te é lícito entristecer-te. Toma este lenço de cabeça, que me foi dado pela dona da tecelagem, já que não posso cingir-me com ele por ser eu de condição servil e levar ele ao selo real.

     3. Disse Ana:

     — Afasta-te de mim, pois que não fiz tal coisa e, além do mais, o Senhor já me humilhou em demasia para que eu o use. A não ser que algum malfeitor o haja dado e tenhas vindo para fazer-me também cúmplice do pecado.

     Replicou Judite:

     — Que motivo tenho eu para maldizer-te, se o Senhor já te amaldiçoou não te dando fruto em Israel?

     4. Ana, ainda que profundamente triste, despiu suas vestes de luto, cingiu-se com um toucado, vestiu suas roupas de bodas e desceu, na hora nona, ao jardim para passear. Ali viu um loureiro, assentou-se à sua sombra e orou ao Senhor, dizendo:

     — Ó Deus de nossos pais! Ouve-me e bendize-me da maneira que bendisseste o ventre de Sara, dando-lhe como filho Isaac!

 

CAPITULO III

     1. Tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se dizendo:

     2. — Ai de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita entre os filhos de Israel. Estes me cumularam de injúrias e me escorraçaram do templo de Deus. Ai de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, pois elas são fecundas em tua presença, Senhor. Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da terra, pois que até esses animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor. 

     3. Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor. Ai de mim! A quem me igualo eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecundada, dando seus frutos na ocasião própria e te bendiz, Senhor.


Este texto deixa bem claro que era vetado ou proibido a uma mulher estéril entrar  no templo ainda na época de Jesus, e a própria avó de Jesus sentiu isto na pele, conforme relato o versículo 2 do capitulo 3:

 

2. — ai de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita entre os filhos de Israel. Estes me cumularam de injúrias e me escorraçaram do templo de Elohim. Ai de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, pois elas são fecundas em tua presença, Eterno. Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da terra, pois que até esses animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Eterno. 

 

Reproduzi novamente o texto para deixar bem claro algumas qualidades depreciativas que Ana reclama devido à discriminação, Ana Se sentia:

  1. Arrependida de haver nascido
  2. Uma Terra maldita
  3. Excluída do templo e assim da vida religiosa da comunidade.
  4. Ana não encontrava paralelos na natureza que se assemelhasse a situação dela.

 

Bem esta era a situação de uma mulher estéril na época de Jesus, discriminada, maldita, excluída do templo, mal vista pela comunidade. Agora eu pergunto por que a comunidade via a mulher estéril com maus olhos? Porque havia textos da Torah que prometia que Deus não colocaria as enfermidades que colocou nos egípcios sobre os filhos de Israel, se eles obedecessem aos mandamentos da Torah, havia ainda a promessa de fertilidade como o texto de deuteronômio 28 que diz que bendito será o fruto do teu ventre e outros textos mais, como vamos ver ao longo deste estudo. Em resumo a esterilidade seria uma conseqüência do pecado, e o pecado era mal visto pela comunidade. Até aqui vimos a respeito da esterilidade da mulher no novo testamento, e no velho testamento será que era diferente? Sim ou não? Vejamos a seguir:

 

Ana mãe do Profeta Samuel não podia entrar no santuário porque ela era estéril

NTLH  I Samuel 1: 9  certa vez eles estavam em siló e tinham acabado de comer. Eli, o sacerdote, estava sentado na sua cadeira, na porta da tenda sagrada. 10  aí Ana se levantou aflita e, chorando muito, orou a deus, o Senhor. 11  e fez esta promessa solene: —ó Senhor todo-poderoso, olha para mim, tua serva! Vê a minha aflição e lembra de mim! Não esqueças a tua serva! Se tu me deres um filho, prometo que o dedicarei a ti por toda a vida e que nunca ele cortará o cabelo. 12  Ana continuou orando ao Senhor durante tanto tempo, que Eli começou a prestar atenção nela

 

Escolhi este texto de Ana porque ele remonta na época dos juizes de Israel, ou seja, antes da monarquia, antes de Saul, antes de  Davi e de Salomão que  foram os primeiros reis de Israel, ou seja, nossa história se passa antes do ano 1000 a . C. Na tradução que escolhi que é a NTLH, o texto diz que Ana chegou ao templo e que o sacerdote Eli estava na porta do templo sentado numa cadeira, ou seja, Ana não entrou no Santuário/Tabernáculo, mas ficou do lado de fora, e ali na presença do sacerdote que estava sentado na porta da congregação, Ana se levantou e orou com toda a sua alma, a ponto do sacerdote pensar que Ana estava embriagada. Sim Ana estava embriagada de decepção, de desgosto, pois Ana era considerada uma mulher maldita entre os filhos de Israel, e ainda era humilhada pela sua rival Penina, que zombava dela por ela poder conceber dar a luz filhos e Ana não. Ana não tinha o direito nem mesmo de entrar no Santuário e adorar ao seu Deus junto do seu marido Elcaná. Elcaná que por sua vez entrava no santuário junto com Penina e ali oferecia seus sacrifícios. Para Ana, porém do lado de fora só lhe restava tristeza e melancolia. Concluindo no velho testamento era a mesma coisa, as mulheres eram discriminadas quando não podiam dar a luz filhos e filhas,   visto que tais prescrições e mandamentos são da Torah, e remontam à época de Moisés e Arão cerca de 1500 anos antes de cristo.

 


3)  A mulher e o escravo. Qual era a diferença?

Na época em Jesus viveu a mulheres judia era considerada em tudo inferior ao homem. Há uma expressão, uma espécie de fórmula, que se repete com freqüência e expressa o escasso apreço em que a mulher era tida:        “ mulheres, escravos, crianças”. A mulher era como uma propriedade semelhante ao escravo não-judeu e ao filho de menor de idade, a mulher pertencia completamente ao seu dono: ao pai, se fosse solteira, o pai podia vender sua filha como escrava quando ela tinha entre 6 a 12 anos e meio de idade, a mulher pertencia completamente ao marido se fosse casada, e pertencia ao cunhado caso o marido falecesse e não tivesse filhos com o falecido. O marido era o dono da mulher, e ela não podia dispor nem dos ganhos do seu trabalho, nem do que recebia. A pobreza das mulheres aparece no relato da viúva pobre que “depositou tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver” no tesouro do Templo. ‘Tudo o que ela tinha para viver, eram apenas duas pequenas moedas” (Mc 12:41-44). A maior parte dos pobres, dos que não sabem onde encontrarão comida para saciar sua fome, ou seja, escravos de um pouco de comida, era na época de Jesus as mulheres e os filhos que delas dependem. Um rabino da época de Jesus afirma: “ Compra-se a mulher por dinheiro, por contrato e por relações sexuais. Compra-se o escravo gentio (goyim) por dinheiro, por contrato e por tomada de posse. Assim, portanto, existe alguma diferença entre a aquisição de uma mulher e de um escravo? Não! “É como se o pai e o marido na família judaica da época de Jesus pertencessem è classe proprietária e patronal, e como se a mulher fosse um objeto, uma posse”.

 

4)  A mulher e a Torah

A mulher não recebia instrução religiosa. Supunha-se que ela fosse incapaz de compreender a Torah. Chega-se a extremos como os do rabi Eliezer, da época de Jesus: “Quem ensina a Torah à sua filha, ensina-lhe a libertinagem, fará mau uso daquilo que aprendeu. É melhor queimar a Torah santa do que entrega-la a uma mulher.”

 

5)  A mulher o Templo e a sinagoga – o minyiam

A religião judaica era uma religião exclusiva para homens. A mulher era desobrigada de guardar os mandamentos positivos da Torah Lei de Moisés, por não podê-los estudar, e na maioria das vezes não saber ler. No Tempo e na sinagoga homens e mulheres ficavam rigorosamente separados. As mulheres sempre em lugares inferiores, secundários. O culto na sinagoga era celebrado apenas caso houvesse ao menos 10 homens. As mulheres e crianças não eram contadas, por mais numerosos que fossem, ou seja, havia um quorum mínimo de 10 homens para se iniciar os trabalhos nas sinagogas este quorum mínimo é chamado de Minyiam.

 

6) A mulher e o testemunho num tribunal judaico


Na época de YESHUA uma mulher não podia atuar como testemunha num tribunal, nem tampouco como testemunha de acusação. Apoiando-se no texto Gn. 18-11-15, os interpretes da TORAH consideravam que o testemunho de uma mulher carecia de valor por causa de sua inclinação à mentira. Usavam a própria TORAH e uma interpretação maluca para desacreditar e descriminar as mulheres.

 

Gênesis 18: 10  Disse um deles: Certamente voltarei a ti daqui a um ano; e Sara, tua mulher, terá um filho. Ouviu-o Sara à entrada da tenda, que estava atrás dele. 11  Ora Abraão e Sara eram já velhos, e de idade avançada; e a Sara tinha cessado o costume das mulheres. 12  Assim riu-se Sara consigo, dizendo: Terei prazer, depois de envelhecida, sendo também velho o meu Senhor? 13  Perguntou Jeová a Abraão: Porque se riu Sara, dizendo: É verdade que eu, que sou velha, darei à luz um filho? 14  Há, porventura, alguma coisa que seja demasiadamente difícil a Jeová? Ao tempo determinado daqui a um ano voltarei a ti, e Sara terá um filho. 15  Então Sara, porque teve medo, o negou, dizendo: Não me ri. Mas ele disse: Não é assim; pois tu te riste.

 

Este é um caso tirado do velho testamento para discriminar a mulher e seu testemunho, porém gostaria de citar outro exemplo que ainda hoje todas as traduções da Bíblia sem exceção continuam a manter o erro, é o caso da mulher de Jó, vejamos o texto em português:

 

Jó 2: 7  Então, saiu Satanás da presença do SENHOR e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. 8  Jó, sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se. 9  Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre. 10  Mas ele lhe respondeu: Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.

 

Como toda pessoa que já tem contato com a Bíblia desde criança conhece esta estória de Jó e da sua mulher que o manda amaldiçoar a Deus e morrer. Porém, não é isto que o texto em hebraico diz, vejamos:

tm:w Myhla Krb K:tmt:b qyzxm K:de w:tsa w:l rmat:w 9: 2 

 

Dicionário Strong da Bíblia on line da SBB

Kr b  =  Berachah

1) abençoar, ajoelhar

2) ser abençoado, abençoar-se

 

Propositalmente coloquei a palavra em questão em negrito e em letras maiores do versículo em hebraico para que o leitor possa perceber mesmo sem conhecer de hebraico, a palavra não é amaldiçoa, e sim, abençoa a Deus “ Myhla  Kr b”, ou seja, “Abençoa a Elohim e morre”. O curioso seria saber o porquê a mulher de Jó disse estas palavras. Para o leitor que não está acostumado ou familiarizado com o judaísmo isto é uma coisa totalmente estranha e sem propósito, porém, no judaísmo existe um costume de a pessoa quando está a beira da morte recitar uma benção que é conhecida com a benção dos moribundos. No judaísmo é costume se louvar a Deus também em ocasiões especiais, tais como; uma viagem, uma doença, uma boa noticia, uma má noticia, ou na proximidade da morte. A benção dos moribundos é um tipo de preparação para a partida e um agradecimento abençoando assim ao nome de Deus pela vida que a pessoa teve aqui na terra e rogar também por seus descendentes que aqui irão ficar. Segue texto desta benção:


 

“ Eterno meu Deus e Deus de meus pais, reconheço que tanto minha saúde como minha morte estão em tuas mãos. Oxalá seja da tua vontade que eu seja curado totalmente. Mas caso minha morte já foi determinada por Ti, quero aceita-la com amor. Que ela seja uma expiação de todo tipo de pecado, de maldade e de transgressões pelais quais me sinto responsável diante de Ti. Derrama sobre mim abundante felicidade reservada aos justos. Faz-me conhecer o caminho da vida: na tua presença encontra-se a plenitude da alegria; à Tua direita há felicidade eterna. Tu, que és o Pai do órfão e o juiz da viúva, protege os meus queridos, que são parte de mim. Nas Tuas mãos confio meu espírito, meu redentor, Eterno Deus fiel. Amém. Amém”.

 

Concluindo, a mulher de Jó disse a ele para ele recitar a benção dos moribundos visto que estava prestes a morrer. Contudo, o contexto da frase leva os tradutores a sempre traduzir como “amaldiçoa a Deus e morre”, devido à mulher de Jó perguntar a ele se ele ainda mantinha a sua integridade, ou seja, o que adiantou ele ser tão integro e ter um final tão trágico, parecia que Deus havia se esquecido dele. A resposta de Jó a sua mulher é neste contexto, da integridade de Jó se era a mesma. Outra coisa interessante notar é que segundo a Torah, a  Lei, blasfemar ou amaldiçoar a Deus era crime capital punido com a morte por apedrejamento, ou seja, se a mulher de Jó tivesse o mandado amaldiçoar a Deus  ela era réu de crime passivo de punição com a morte, e não foi isto que narra a Bíblia, ela não sofreu nenhum tipo de punição, além disso, cabe aqui acrescentar que se ainda assim o fosse Jó por ser um homem integro e temente a Deus teria se divorciado dela e a deixado visto que ele era uma mulher que amaldiçoava ao Deus que Jó tanto amava e era fiel. Não é nada  disto que narra a história de Jó, ele continuou com sua mulher e ainda com ela teve outras filhas que vieram a ser as mais formosas daquelas terras. A frase “ amaldiçoa a Deus e morre” também é machista, discriminatória contra as mulheres.


 

OBS: Muitos estudiosos poderão dizer que o personagem Jó não era judeu, mas sim um dos patriarcas de Israel e, portanto o judaísmo na época de Jó não estava tão desenvolvido a este ponto de existir orações para todas as ocasiões e finalidades. Porém muitos estudiosos se esquecem que quem compilou as estórias do livro de Jó foi Esdras o PAI da religião Judaica e do JUDAISMO, ou seja, a estória de Jó pode ser muito mais antiga porém foi alvo de redação por escribas da época de Esdras e posterior a ele também.


7) A Benção Por Não Ter Nascido Mulher


A consciência da superioridade religiosa masculina era muito difundida no tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs não só entre os judeus, mas também entre gregos e romanos. O homem grego, por exemplo, agradecia aos deuses a sorte de ter nascido ser humano e não animal, grego e não bárbaro, livre e não escravo, homem e não mulher.

Entre os judeus havia um ditado: “Bem aventurado aquele cujos filhos são homens. Ai daqueles cujos filhos são mulheres”.

Na oração que os judeus da época de Jesus e depois dos séculos I e II d. C. faziam na sinagoga, três vezes o homem judeu agradecia a Deus o fato de não ter sido criado gentio, escravo ou mulher, enfatizando seu privilégio religioso. Assim diz o comentário do século II:

 

Rabi Yehuda diz: devem ser feitas três orações diárias:

Bendito sejas Tu Eterno, nosso Deus, que não me fez goym (gentio).

Bendito sejas Tu Eterno, nosso Deus, que não me fez mulher.

Bendito sejas Tu Eterno, nosso Deus, que não me fez escravo.

Rabi Yehuda explica o porque da oração:

Bendito sejas Tu Eterno, nosso Deus, que não me fez goym (gentio): porque todas as nações diante dele são como nada (Is. 40:17).

Bendito sejas Tu Eterno, nosso Deus, que não me fez mulher: porque a mulher não está obrigada a cumprir os mandamentos.

Bendito sejas Tu Eterno, nosso Deus, que não me fez escravo ou ignorante: porque o escravo e ignorante não se envergonha de pecar.”

 

No hebraico – a língua em que foi escrito o Antigo Testamento – as palavras piedoso (hassid), justo (tzadic) e santo (kadosh) não possuem forma feminina, ou seja, a mulher era praticamente excluída da vida religiosa na sociedade judaica na época de Jesus. Até hoje o judeu recita três vezes ao dia a seguinte oração:

 

13 - BARUCH ATA ADONAI  ELOHÊNU MÉLECH HAOLAM, SHELÓ ASSÁNI  ISHA.

Bendito sejas tu,Eterno, nosso Elohim, rei do universo,  que não me fizeste mulher.

 

O apostolo Paulo entendeu bem este peculiar da mensagem de Jesus e deixou este versículo maravilhoso que segue abaixo que expressa o ideal do projeto de Deus, que é a igualdade de direitos e deveres entre todos os seres humanos:

Gálatas 3: 6  Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; 27  porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. 28  Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. 29  E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.

 

8) A mulher e a lei do puro e impuro

Após o exílio babilônico os sacerdotes judeus desenvolveram uma série de códigos de pureza e impureza criando assim as leis do puro e impuro, na época a intenção era separar Israel ou Judá ao sul dos demais povos da região e torná-los distintos dos tais. Israel deveria ser “SANTO” em hebraico “KADOSH”, hoje esta palavra adquiriu um significado totalmente diferente da época, na época queria dizer simplesmente “SEPARADO”. Porém o que era para ser uma coisa boa se deformou e acabou criando problemas até mesmo sociais. Por que criou problemas sociais? Porque criou classes sociais e separação entre o próprio povo judeu e israelita. Poderíamos citar e enxergar as diferenças sociais e econômicas até mesmo nas ofertas e sacrifícios feitos no Templo, ou seja, quem tinha mais posses ofertava um boi ou uma vaca, outro um bezerro, outro ofertava um cordeiro ou cabrito, outro um bode, outro uma cabra, outro dois pombinhos até chegar no que ofertava um punhado de farinha com azeite. Portanto é fácil notar que tais leis do puro e do impuro criaram uma estratificação social, ou seja, camadas sociais divididas por fatores econômicos que são basicamente os pilares da nossa sociedade ocidental atual que diga-se de passagem é uma sociedade totalmente injusta e fundamentada na injustiça social. Não vamos citar aqui os problemas de impurezas da pele e outras doenças que acabaram lançando tais doentes ao total abandono e marginalização por parte das autoridades judaicas. Porém vamos observar algumas leis que geraram discriminação contra as mulheres. Quando o livro de Leviticos prevê uma oferta dos pobres, no caso aqui um casal de pombinhos, deixa claro a formação de classes sociais no período pós exílio babilônico e o crescente aumento dos pobres. Lembre-se de Maria mãe de Jesus, que quando teve que se apresentar no Templo após os quarenta dias de impureza e assim oferecer o sacrifício para purificação se submete assim a tal lei mas não somente isto, mas também apresenta a oferta dos pobres (Lucas 2:22-38).

 

A lei sobre purificação depois do parto

Levitico capitulo 12. A mulher por ocasião do parto entra na sacralidade do mistério da vida, e por isso, torna-se impura, principalmente pela perda de sangue que em geral ocorre. Interessante notar a diferença entre o nascimento de um menino e de uma menina. O nascimento de um menino deixa a mãe impura por quarenta dias e o nascimento de uma menina deixa a mãe impura pelo dobro do tempo, ou seja, oitenta dias. Não há motivo aparente para tal distinção, e a razão só pode ser explicada pelo antifeminismo do mundo patriarcal judaico.

 

A lei sobre impureza sexual

Levitico capitulo 15. Conforme a legislação sobre pureza sexual, as secreções sexuais, devidas as causas naturais ou a doenças, tornam sempre impuros o homem e a mulher, impedindo-os de participar do culto. Porém é de se notar que a mulher fica sempre em desvantagem em relação ao homem. Desde a adolescência até a menopausa a mulher fica escrava do Templo, devendo oferecer sacrifícios mensais sempre após a menstruação porque devido a mesma a mulher ficou impura.

Gostaria de exemplificar melhor esta parte sobre a menstruação da mulher e as terríveis conseqüências que isto gerou até chegar na época de Jesus. O evangelho de Marcos  costuma conter pares de incidentes que se destinam a ser interpretados um à luz do outro. Na sequencia narrativa eles vibram juntos, cada um refletindo significados no outro. Isso é feito por meio de uma intercalação, ou técnica de moldura, em que o Incidente A começa, então o Incidente B começa e interrompe o incidente A, o incidente B continua, conclui-se o Incidente B, e finalmente o Incidente A continua e conclui-se também. Neste evangelho de Marcos os estudiosos chamam isto de MOLDURAS. Aqui vão alguns exemplos:

 

 
A FAMILIA DE JESUS
A MULHER DO FLUXO DE SANGUE
JESUS ENVIA OS DOZE
A FIGUEIRA SECA
JESUS É TRAIDO
A NEGAÇÃO DE PEDRO
Incidente A
3:20-21
5:21-24
6: 7-13
11:12-14
14:1-2
14:53-54
Incidente B
3:22-30
5:25-34
6:14-29
11:15-19
14:3-9
14:55-65
Incidente A
3:31-35
5:35-43
6:30
11:20-21
14:10-11
14:66-72

 

Em outras palavras, Marcos quer que os ouvintes e leitores de seu Evangelho considerem esses dois acontecimentos juntos, de modo que o Incidente A e o Incidente B fossem interpretados mutuamente. Vamos agora ao episódio que nos interessa envolvendo as mulheres.

Na narrativa em molduras do evangelho de Marcos, Jesus é chamado a curar a filha de Jairo de doze anos de idade que está , ou seja, na época ou idade em que a menina começa a menstruar e se torna mulher, o Incidente A é interrompido pelo inicio do Incidente B que inicia e se desenrola até o final, ou seja, o Incidente B é o episódio da mulher que jazia há doze anos com um fluxo de sangue ou em outras palavras uma hemorragia menstrual permanente há doze anos:

 

Incidente A começa: Jesus é solicitado a salvar a filha de Jairo e parte para assim fazê-lo, Marcos 5:21-24.

 

Incidente B começa e termina: Jesus cura uma mulher com hemorragia menstrual, Marcos 5:25-34.

 

Incidente A termina:  Jesus chega e ressuscita a filha de Jairo, Marcos 5:35-43.

 

Pense nas implicações teológicas dessa intercalação em molduras de Marcos, de um código de pureza e impureza feito pelos sacerdotes do Templo em que a menstruação é impureza, de modo que, sob o ponto de vista de Marcos, as mulheres na sociedade judaica da época de Jesus começam a morrer aos doze anos de idade e são a partir daí mortas que andam, ou seja, na linguagem de hoje mortos ambulantes ou verdadeiros ZUMBIS.

 

Este episódio da filha de Jairo e da mulher de fluxo de sangue têm um verdadeiro teor ético e moral  parecido com o sistema de MIDRASH RABINICO tanto conhecido pelos judeus e usados pelos mestres da Judéia na época de Jesus e tem uma mensagem poderosíssima e um apelo urgente contra a discriminação das mulheres que foram totalmente excluídas do Templo e sinagogas devido a lei do puro e impuro. Este episódio da mulher com hemorragia menstrual ilustra bem a atitude de Jesus a esse respeito. Sendo que a impureza era transmitida pelo toque direto ou indireto, o fato de Jesus deixar-se tocar pela mulher mais uma vez o mostra violando os códigos de pureza dos sacerdotes do Templo. E fato curioso é que a mulher também fica curada exatamente por violar tais códigos. Dessa forma Jesus mostra que a vontade de Deus é restaurar a vida integra e a convivência social.

 

9) Defeitos físicos na Torah

 

A respeito de defeitos físicos


Levítico 21:17  fala a Arão e dize-lhe: qualquer dos teus descendentes por todas as suas gerações que tiver defeito não se chegará para oferecer o pão do seu Deus.18  quem quer que seja que tiver defeito não se chegará: se for cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou tiver alguma coisa supérflua,19  ou tiver o pé quebrado, ou mão quebrada,20  ou for corcovado, ou anão, ou tiver um defeito na vista, ou sarna, ou impigens, ou que tiver os testículos quebrados.21 ou for corcovado, ou anão, ou tiver um defeito na vista, ou sarna, ou impigens, ou que tiver os testículos quebrados.22  nenhum homem da semente de Arão, o sacerdote, que tiver defeito, se chegará para oferecer as ofertas queimadas de Yahwéh. Ele tem defeito, não se chegará para oferecer o pão do seu Deus.

 

Deuteronômio 28:58  se não tiveres cuidado de guardar todas as palavras desta lei, escritas neste livro, para temeres este nome glorioso e terrível, o eterno, teu Deus,59  então, o eterno fará terríveis as tuas pragas e as pragas de tua descendência, grandes e duradouras pragas, e enfermidades graves e duradouras;60  fará voltar contra ti todas as moléstias do Egito, que temeste; e se apegarão a ti.

 

Aqui vai a relação de  pessoas com enfermidades que não podiam entrar no santuário ou Tenda da congregação e nem no Templo:

 

  1. O cego,
  2. Ou coxo,
  3. Ou de nariz chato,
  4. Ou se tivesse alguma coisa supérflua,
  5. Ou tivesse o pé quebrado,
  6. Ou mão quebrada,
  7. Ou for corcovado,
  8. Ou anão,
  9. Ou tivesse um defeito na vista,
  10. Ou sarna,
  11. Ou impigens,
  12. Ou que tivesse os testículos quebrados,
  13. Eunuco,

14.  Leproso,

15.  Fluxo de sangue,

16.  Mulher menstruada,

 

São inúmeros os casos de pessoas com enfermidades e doenças que eram excluídas praticamente da vida religiosa e conseqüentemente da comunidade de Israel. Pense nos casos de cura que Jesus praticou no novo testamento, a maioria das curas se encaixa nestas enfermidades que eram vistas e tidas como impuras e excluíam as pessoas. Jesus ao curar estas pessoas mandava elas se apresentarem ao sacerdote no templo e oferecer o sacrifício de purificação que a Torah prescrevia, ou seja, era como um tapa com luvas de pelica na classe sacerdotal do templo, que excluíam estas categorias de pessoas. Era como se Jesus estivesse dizendo a eles, vocês rejeitam e excluem os pobres e doentes do Templo, se dizem homens de Deus, mas não curam os doentes, pobres e excluídos, eu, todavia os curo, os purifico e os reintegro a vida e a sociedade. Eu dou a eles a vida. Eu devolvo a eles a vida. Estes eram os sinais que mostravam que Jesus era o messias, estes sinais já haviam sido preditos pelos essênios que viviam nas cavernas de Qunram. Jesus conhecia bem o messias esperado pelos essênios. Veja a explicação que ele deu a Yochanan bar ZacharYahu (João batista) em Lucas 7:22:

 

"então lhes respondeu: ide, e contai a Yochanan o que tens visto e ouvido: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres são anunciadas as boas novas."

 
 Agora compare com o critério do messias esperado pelos essênios:

"[os céus] e a terra ouvirão ao seu messias, e ninguém se afastará dos mandamentos dos santos. Vocês que buscam ao Yahwéh, fortaleçam-se no serviço dele! Todos vocês esperançosos em (seu) coração, vocês não encontrarão o Yahwéh nisto? Porque o Yahwéh considerará os hassidim (pios) e chamará os justos pelo nome. Sobre os pobres o seu espírito pairará e renovará os fiéis com o seu poder. E ele glorificará os hassidim (pios) no trono do reino eterno. Ele que libera os cativos, restaura a visão dos cegos, endireita os [tortos]... E o S-nhor fará coisas gloriosas que nunca houveram... Pois ele curará os feridos, e reviverá os mortos e trará as boas novas aos pobres..." (4q521)

 

O objetivo de Jesus era realizar estas curas das profecias e anunciar as boas novas aos pobres, e os pobres vibraram quando viram aquele rabino ou morêh (mestre) vindo da Galiléia, batendo de frente com a classe religiosa e dominante da Judéia através de suas pregações e curas, através de seus sinais e maravilhas que realizava para os excluídos, e após curar os excluídos, as párias para a sociedade da época os mandava se apresentarem ao sumo sacerdote e oferecer os sacrifícios prescritos na Torah, provando que eles estavam puros e assim poderiam adentrar no Templo e nas sinagogas, ou seja, Jesus reintegrava à sociedade os excluídos, e isto não é diferente nos dias de hoje, quantas pessoas você conhece que eram párias, escórias para a nossa sociedade e hoje são pessoas renascidas, transformadas por Jesus? É! Ele não mudou e sua pregação continua super-atual para os nossos dias.

 Não eram somente as pessoas doentes e impuras por enfermidades que Yeshua curava e reintegrava à sociedade, mas também os pobres,  que eram excluídos do Templo de Jerusalém,  por não terem condições de ofertar o sacrifício de expiação dos pecados,  prescritos pelos sacerdotes através do livro de Leviticos. Pense quantos milhares de pessoas tinham o desejo de conhecer o Templo de Jerusalém e adentra-lo, e lá oferecer seu sacrifício de expiação para se purificar diante de Deus, mas infelizmente não podiam por serem extremamente pobres, e ser pobre em extremo na época de Yeshua era a coisa mais comum devido à exploração e opressão romana. Pense no impacto sofrido nas finanças e no tesouro do Templo, quando surgiu um homem às margens do rio Jordão pregando:

 

Marcos 1: 2 Conforme está escrito na profecia de Isaías: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho; 3  voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas; 4  apareceu João Batista no deserto, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados. 5  Saíam a ter com ele toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão. 6  As vestes de João eram feitas de pêlos de camelo; ele trazia um cinto de couro e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre.

 

Pense nos dias de festas judaicas tipo, Peshach, Shavuot, Sukot, João Batista e Jesus, um no Norte do rio Jordão e o outro no Sul, numa campanha de pregação do arrependimento e batizando os judeus vindos da diáspora, ou seja, os judeus que viviam fora de Israel, de acordo com Flavio Josefo, o numero de judeus em Jerusalém nos dias da três grandes festas judaicas chegava a quase 3 milhões de pessoas, segue texto:

 

Eles escolheram para isso o tempo da festa da Páscoa no qual desde as nove horas até às onze, sem cessar, imola­ram-se vítimas, cuja carne era consumida pelas famílias, que não tinham menos de dez pessoas, algumas até vinte. Concluiu-se que haviam sido imolados duzentos e cinqüenta e cinco mil e seiscentos animais, de onde, contando-se apenas dez pessoas para cada animal, teríamos dois milhões, quinhentos e cinqüenta e seis mil pessoas, purificadas e santificadas.  (Flavio Josefo- guerras judaicas livro vi - Capítulo 45)

 

Pense na cena, João Batista e Jesus batizando esses judeus da diáspora de Norte a sul do Rio Jordão conforme nos informa o Evangelho de João:

 

João 3: 22   Depois disto, foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia; ali permaneceu com eles e batizava. 23  Ora, João estava também batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e para lá concorria o povo e era batizado. 24  Pois João ainda não tinha sido encarcerado. 25  Ora, entre os discípulos de João e um judeu suscitou-se uma contenda com respeito à purificação. 26  E foram ter com João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro.

 

Uma campanha conjunta de João Batista e Jesus, e diz o texto que o povo concorria para lá e era batizado tanto por João de um lado, quanto por Jesus do Outro. Agora voltemos ao nosso tema inicial, observe que surgiu uma contenda entre um judeu e um seguidor de João Batista sobre a purificação, e é exatamente aqui que reside o problema da época enfrentado por Jesus e João batista com as autoridades judaicas do Templo de Jerusalém. João e Jesus estavam oferecendo ao povo em geral, mas principalmente aos pobres, uma opção gratuita de purificação dos pecados, sem sacrifícios, sem vacas, ovelhas, bois e etc., imagine o prejuízo causado aos cofres do Templo de Jerusalém e aos bolsos das famílias do Sumo Sacerdote que eram da seita dos saduceus... João e depois Jesus estavam reintegrando estas pessoas com Deus e purificando-as de graça.

 

 A respeito dos castrados e eunucos


Neemias era eunuco do rei, e, portanto não podia entrar no templo de Deus


Deuteronomio 23: 1  aquele a quem forem trilhados os testículos ou cortado o membro viril não entrará na assembléia do senhor. (Ra)

Deuteronomio 23: 1  aquele a quem forem trilhados os testículos, ou cortado o membro viril, não entrará na assembléia de Yahwéh. (Tb)

Deuteronomio 23: 1  moisés disse ao povo: —nenhum homem castrado ou que tenha o membro cortado poderá fazer parte do povo de Deus, o senhor. (Ntlh)

 

Neemias 6: 10  fui à casa de Semaías, filho de Delaías, filho de Meetabel, que estava encerrado; e ele disse: ajuntemo-nos na casa de Deus, dentro do templo, e fechemos as portas do templo: pois virão matar-te, à noite virão matar-te. 11  porém respondi: porventura um homem como eu há de fugir? E quem há que, sendo tal como eu, entrará no templo e viverá? Não entrarei. 12  discerni, e eis que Deus não o tinha enviado; mas pronunciou esta profecia contra mim. Tobias e Sambalá o tinham peitado.

 


 Novo testamento e os excluídos pela interpretação da época da Torah


Jesus cura um leproso

Mateus 8: 1  ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. 2  e eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: senhor, se quiseres, podes purificar-me. 3  e Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. 4  disse-lhe, então, Jesus: olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo.

 

Jesus cura um leproso

Marcos 1: 39  então, foi por toda a galiléia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios. 40  aproximou-se dele um leproso rogando-lhe, de joelhos: se quiseres, podes purificar-me. 41  Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: quero, fica limpo! 42  no mesmo instante, lhe desapareceu a lepra, e ficou limpo. 43  fazendo-lhe, então, veemente advertência, logo o despediu 44  e lhe disse: olha, não digas nada a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo.

Jesus cura um leproso


Lucas 5: 12  aconteceu que, estando ele numa das cidades, veio à sua presença um homem coberto de lepra; ao ver a Jesus, prostrando-se com o rosto em terra, suplicou-lhe: eterno, se quiseres, podes purificar-me. 13  e ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: quero, fica limpo! E, no mesmo instante, lhe desapareceu a lepra. 14  ordenou-lhe Jesus que a ninguém o dissesse, mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o sacrifício que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo.

Jesus cura dez leprosos


Lucas 17: 11  de caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de SaMaria e da galiléia. 12  ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, 13  que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, mestre, compadece-te de nós! 14  ao vê-los, disse-lhes Jesus: ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados.

 10) A mulher e o divórcio

Somente o marido tinha o direito de pedir o divórcio, ao passo que a esposa era obrigada a viver com as concubinas. Era um direito arbitrário e caprichoso. Se uma mulher saía à rua sem cobrir a cabeça e o rosto, ofendia de tal modo os bons costumes, que seu marido tinha o direito, inclusive o dever religioso, de expulsa-la de casa e divorciar-se dela, sem estar obrigado a pagar-lhe a soma combinada no contrato matrimonial.

A mulher que perde seu tempo na rua, falando com uns e outros, ou que se põe a fiar na porta de sua casa, pode ser repudiada por seu marido sem qualquer compensação econômica.

Inclusive quando a esposa tivesse deixado a comida se queimar segundo o rabino Hillel, avó de Gamaliel dos atos dos apóstolos, podia ela ser repudiada com o divórcio.

E também segundo o grande rabino Akiva, quando o marido descobria algo torpe em sua mulher, o que era que ele fazia? E o que era esse algo torpe? E o que acontecia? “Quando ele o marido encontrava outra mulher que fosse mais bonita que a sua.” Em outras palavras quando o marido encontrasse outra mulher mais bonita que a sua ele poderia se divorciar alegando ter achado algo torpe na sua esposa.

Somente o homem podia ter várias mulheres, e a esposa devia tolerar a existência de concubinas consigo em sua própria casa. É claro que isso era privilégio dos ricos, inacessível aos pobres.

 11)  As mulheres e os textos  do novo testamento

Os debates sobre o papel das mulheres na igreja não desempenharam grande papel na transmissão dos textos do novo testamento, mas tiveram certa influência em passagens interessantes e importantes. Para compreender os tipos de mudanças textuais feitas, necessitamos conhecer o que estava por trás da natureza desses debates.

 

As mulheres na igreja primitiva

Os pesquisadores modernos reconhecem que as disputas sobre o papel das mulheres na igreja primitiva ocorreram justamente porque as mulheres tinham um papel – muitas vezes, importante e de destaque. Além do mais, era essa a situação desde o principio, a começar pelo ministério do próprio Jesus. Não se pode negar que os seguidores mais próximos de Jesus – os doze apóstolos – eram todos homens, como seria de se esperar de um rabino judeu na palestina do século I. Mas nossos mais antigos evangelhos indicam que Jesus    também era acompanhado por mulheres em suas viagens e que algumas dessas mulheres davam suporte financeiro a ele e a seus discípulos, agindo como patronas de seu ministério de pregação itinerante:

Marcos  15:40  e também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé, 41  as quais também o seguiam e o serviam, quando estava na galiléia; e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.

 

Lucas  8:1  aconteceu, depois disto, que andava Jesus    de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, 2  e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada madalena, da qual saíram sete demônios; 3  e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens.

 

Registra-se que Jesus manteve diálogos públicos com mulheres e ministrou para elas em público:

 

Marcos  7: 24  e, levantando-se dali, foi para os termos de tiro e de sidom. E, entrando numa casa, não queria que alguém o soubesse, mas não pôde esconder-se; 25  porque uma mulher, cuja filha tinha um espírito imundo, ouvindo falar dele, foi, e lançou-se aos seus pés. 26  e esta mulher era grega, siro-fenícia de nação, e rogava-lhe que expulsasse de sua filha o demônio. 27  mas Jesus    disse-lhe: deixa primeiro saciar os filhos; porque não convém tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. 28  ela, porém, respondeu, e disse-lhe: sim, Senhor; mas também os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, as migalhas dos filhos. 29  então ele disse-lhe: por essa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha. 30  e, indo ela para sua casa, achou a filha deitada sobre a cama, e que o demônio já tinha saído.

 

João  4: 6  e estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta. 7  veio uma mulher de saMaria tirar água; disse-lhe Jesus: dá-me de beber. 8  porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. 9  disse-lhe pois a mulher samaritana: como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos). 10  Jesus    respondeu, e disse-lhe: se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. 11  disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde pois tens a água viva? 12  és tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado? 13  Jesus    respondeu, e disse-lhe: qualquer que beber desta água tornará a ter sede; 14  mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte d’água que salte para a vida eterna. 15  disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la. 16  disse-lhe Jesus: vai, chama o teu marido, e vem cá.

 

Registra-se, em particular, que mulheres acompanharam Jesus em sua última viagem a Jerusalém, que elas estiveram presentes a sua crucificação e que só elas foram fiéis a ele até o fim, quando os discípulos homens fugiram com medo de serem presos também:

 

Mateus  27:55  e estavam ali, olhando de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus    desde a galiléia, para o servir;56  entre as quais estavam Maria madalena, e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.

 

Marcos  15:40  e também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé, 41  as quais também o seguiam e o serviam, quando estava na galiléia; e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.

 

E, o mais importante de tudo, cada um dos quatro evangelhos são unânimes a indicarem que foi uma mulher – Maria madalena, sozinha ou com outras companheiras – que descobriu o túmulo vazio, tornando-se a primeira, a saber, e a dar testemunho da ressurreição de Jesus de entre os mortos:

 

Mateus  28:1  e, no fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria madalena, e a outra Maria foram ver o sepulcro; 2  e eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra, e sentou-se sobre ela. 3  e o seu aspecto era como um relâmpago, e o seu vestido branco como neve. 4  e os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados, e como mortos. 5  mas o anjo, respondendo, disse às mulheres: não tenhais medo; pois eu sei que buscai a Jesus   , que foi crucificado. 6  ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia. 7  ide pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dos mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a galiléia; ali o vereis. Eis que eu vo-lo tenho dito. 8  e, saindo elas pressurosamente do sepulcro, com temor e grande alegria, correram a anunciá-lo aos seus discípulos. 9  e, indo elas, eis que Jesus    lhes sai ao encontro, dizendo: eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os seus pés, e o adoraram. 10  então Jesus    disse-lhes: não temais; ide dizer a meus irmãos que vão a galiléia, e lá me verão.

 

Marcos  16:1  e, passado o sábado, Maria madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. 2  e, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol; 3  e diziam umas às outras: quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? 4  e, olhando, viram que já a pedra estava revolvida; e era ela muito grande. 5  e, entrando no sepulcro, viram um mancebo assentado à direita, vestido de uma roupa comprida, branca; e ficaram espantadas. 6  porém ele disse-lhes: não vos assusteis; buscais a Jesus    nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram. 7  mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro , que ele vai adiante de vós para a galiléia; ali o vereis, como ele vos disse. 8  e, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém, porque temiam.

 

Lucas  23: 55  e as mulheres, que tinham vindo com ele da galiléia, seguiram também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo.56  e, voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos, e no sábado repousaram, conforme o mandamento.

 

Lucas  24:1  e no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado. 2  e acharam a pedra revolvida do sepulcro. 3  e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus   . 4  e aconteceu que, estando elas perplexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois varões, com vestidos resplandecentes. 5  e, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhe disseram: por que buscais o vivente entre os mortos? 6  não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na galiléia, 7  dizendo: convém que o filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite. 8  e lembraram-se das suas palavras. 9  e, voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais. 10  e eram Maria madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago, e as outras que com elas estavam, as que diziam estas coisas aos apóstolos.

 

João  20: 1  e no primeiro dia da semana Maria madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro. 2  correu, pois, e foi a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus    amava, e disse-lhes: levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram.

 

É intrigante procurar saber o que na mensagem de Jesus atraía particularmente as mulheres. A maioria dos pesquisadores está convicta de que Jesus proclamou o reino vindouro de Deus, no qual não haveria mais injustiça, sofrimento ou mal, no qual todos, ricos e pobres, escravos e livres, homens e mulheres, estariam em pé de igualdade. Essa mensagem de esperança demonstrou-se particularmente atraente para aqueles que, naquele tempo, eram excluídos – o pobre, o doente, o banido e as mulheres.

 
12)   Alterações nos textos do NT envolvendo mulheres

As mulheres devem ficar caladas na Igreja?

Uma das mais importantes passagens na discussão contemporânea sobre o papel das mulheres na igreja encontre-se em I Corintios 14:33-36. A passagem, tal qual traduzida na maioria das edições modernas da bíblia, diz o seguinte:

 

I corintios 14: 33  porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. 34  as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. 35  e, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é indecente que as mulheres falem na igreja. 36  porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?

 

A passagem parece ser uma proibição direta: as mulheres não devem falar (não podem ensinar) na igreja, muito semelhante à passagem de I Timoteo 2:11-15. Como vimos, contudo, os pesquisadores estão convictos de que Paulo  não escreveu a passagem de i timoteo 2:11-15, porque ela ocorre em uma carta que parece ter sido escrita por um seguidor de Paulo  de segunda geração, que teria atribuído a carta ao apóstolo. Mas não há dúvidas que Paulo tenha escrito I Corintios. Contudo, pairam dúvidas sobre essa passagem. Pelo que se sabe, os versículos em questão (34-35) estão embaralhados em alguns de nossos mais importantes testemunhos. Em três manuscritos gregos e em alguns testemunhos latinos, eles não se encontram aqui, depois do versículo 33, mas depois do versículo 40.

 

A bíblia de Jerusalém diz assim em sua nota de rodapé:

“Os versículos 34-35, que alguns manuscritos colocam depois do versículo 40, são acréscimos pós Paulino.”

 

Esse deslocamento de texto em vários manuscritos levou alguns pesquisadores à conclusão que esses versículos não foram escritos por Paulo, mas originados de uma espécie de nota marginal acrescentada por um copista, provavelmente influenciado por i timoteo 2:11-15. A nota teria sido, portanto, inserida em diferentes lugares do texto por vários copistas, alguns colocaram a nota depois do versículo 33, outros a inseriram depois do versículo 40.

 

Conclusão esses versículos não foram escritos originalmente por Paulo.

 

Por um lado eles não coadunam com seu contexto imediato. Nessa parte de I Corintios 14, Paulo está analisando a questão da profecia na igreja e instruindo os profetas cristãos acerca de como devem se comportar durante as reuniões cristãs de culto. Esse é o tema dos versículos 26 até o 33, que retorna nos versículos 36 até o 40. Se os versículos 34-35 forem retirados desse contexto, a passagem parece fluir coerentemente como uma discussão do papel dos profetas cristãos. A discussão sobre as mulheres surge como uma intrusão, ou seja, como um intruso, naquele contexto imediato, interrompendo instruções que Paulo está dando sobre um tema diferente. E esses versículos não surgem apenas como uma intromissão no contexto do capitulo 14, eles parecem estar em discordância com aquilo que Paulo diz explicitamente em todo o resto de i corintios. Antes, como vimos Paulo instrui as mulheres sobre como falar na igreja, de acordo com o capitulo 11:

 

I Corintios 11:5  mas toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada.

 

Quando orarem e profetizarem, atividades que eram sempre desempenhadas em voz alta nas reuniões cristãs de adoração, elas devem se certificar de estarem com as cabeças cobertas pelo véu conforme capitulo 11:2 ao 16. Nessa passagem, seguramente escrita por Paulo, está claro que ele entende que as mulheres podem falar e falam na igreja. Na passagem do capitulo 14 que estamos discutindo, porém, fica igualmente claro que “Paulo” proíbe terminantemente as mulheres de falar na igreja. É difícil conciliar essas duas perspectivas, Paulo permite às mulheres falar (de cabeças cobertas, capitulo 11) ou não (capitulo 14)? Dado que parece impossível pensar que Paulo pudesse se contradizer tão rapidamente, no curto espaço de três capítulos, com certeza os versículos 34-35 do capitulo 14 não provem dele Paulo. Com base em uma combinação de evidências, vários manuscritos que embaralham os versículos em questão, o contexto literário imediato que faz os versículos 34-35 parecerem um intruso ali, e o contexto de todo o livro e i Corintios como um todo, chegamos a fortíssima conclusão que Paulo não escreveu o texto de i Corintios 14: 34-35. Podemos concluir que esses versículos são uma alteração escrituristica do texto, originalmente provocada, talvez, por uma nota marginal, que posteriormente, num estágio antigo da cópia de I Corintios, foi incorporado ao texto. A alteração não há dúvidas, foi feita por um copista para discriminar as mulheres na igreja. O copista que acrescentou o texto queria enfatizar que as mulheres não deviam ter função pública na igreja, que elas deviam manter-se em silêncio e subservientes a seus maridos. Essa visão veio a ser incorporada ao próprio texto, por meio de uma alteração textual.

 

I Corintios 14: 34  as mulheres estejam caladas nas igrejas; pois não lhes é permitido falar, mas estejam em sujeição, como também diz a Lei. 35  Se, porém, querem aprender alguma coisa, perguntem-na em casa a seus maridos; porque é vergonhoso para uma mulher o falar na igreja.

 

I Corintios 6: 5  Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada. 6  Portanto, se a mulher não usa véu, nesse caso, que rape o cabelo. Mas, se lhe é vergonhoso o tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu.

 

Gálatas 3: 28  Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos vós sois um só  em Cristo Jesus. 29  Mas se vós sois de Cristo, então sois semente de Abraão, herdeiros segundo a promessa.

 

A própria teologia paulina era totalmente contra a discriminação de pessoas por classes, raças ou sexo conforme mostra o texto de Gálatas 3:28. Então fica realmente muito difícil harmonizar estes versículos que dizem que as mulheres devem ficar caladas na Igreja. Isto com 100 %  de certeza se trata de um acréscimo  da igreja quando esta foi dominado e dirigida exclusivamente por homens e desonestos ao ponto de alterar as escrituras para justificar seu poderio.

 

Precisamos analisar brevemente várias outras mudanças textuais semelhantes. Uma delas ocorre em uma passagem que já mencionei, romanos 16, na qual Paulo fala de uma mulher, Júnia, e de um homem, que devia ser seu marido, Andrônico, aos quais o apostolo se refere como “apóstolos eminentes” (versículo 7). Trata-se de um versículo significativo, porque esse é o único lugar no novo testamento no qual uma mulher é citada como apóstola. Os interpretes ficaram tão impressionados com esse trecho que muitos deles passaram a sustentar que ele não podia significar o que dizia, para, desse modo, poder traduzir o versículo como chamado Jonas, que, juntamente com seu companheiro, Andrônico, era elogiado como apostolo. O problema com essa tradução é que, enquanto júnia era um nome feminino muito comum, não há indicio no mundo antigo de “Júnias” como um nome masculino. Paulo está se referindo a uma mulher chamada Júnia, mesmo que alguns tradutores bíblicos modernos (dê uma olhada na sua bíblia!) Continuem a se referir a essa apóstola como se ela fosse um homem chamado Júnias.

 

Bíblia de Jerusalém:

Romanos 16:7- saudai Andrônico e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão, apóstolos exímios que me precederam na fé em cristo.

 

Bíblia João Ferreira de Almeida

7 (NTLH)  saudações a Andrônico e à irmã Júnia, meus patrícios judeus, que estiveram comigo na prisão. Eles são apóstolos bem conhecidos e se tornaram cristãos antes de mim.

 

Bíblia João Ferreira de Almeida

7 (RA)  saudai Andrônico e Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos e estavam em cristo antes de mim.

 Bíblia João Ferreira de Almeida

7 (RC)  saudai a Andrônico e a Júnia, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em cristo.

 
Bíblia João Ferreira de Almeida

7 (TB)  saudai a Andrônico e a Júnias, meus compatriotas e companheiros em prisão, os quais se assinalam entre os apóstolos, e que também estavam em cristo antes de mim.

 

Bíblia João Ferreira de Almeida

7 (NVI) saúdem andrônico e Júnias, meus parentes que estiveram na prisão comigo. São notáveis entre os apóstolos, e estavam em cristo antes de mim.

 

Observe a tradução brasileira (TB) e a nova versão internacional (NVI) que conserva o texto errado e assim perpetuando a má fé do copista. Júnias ou júnia? Júnias = nome masculino / Júnia = nome feminino.

 

A diferença é tão sutil que as pessoas quase não percebem. Voltando ao estudo: alguns copistas também devem ter tido dificuldades em atribuir apostolicidade a essa mulher desconhecida e, por isso, fizeram uma sutil mudança no texto para evitar o problema. Em alguns de nossos manuscritos, em vez de dizer: “saudai Andrônico e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão, eminentes apóstolos”, o texto é mudado para se tornar mais fácil de traduzir:

Romanos 16: 7 “Saudai Andrônico e Júnia, meus parentes; saudai também meus companheiros de prisão, apóstolos eminentes”.

 

Com essa mudança textual, ninguém precisa mais se preocupar com o fato de uma mulher ser citada em meio ao grupo apostólico de homens!

 

Mudança semelhante foi feita por alguns copistas no livro de Atos dos apóstolos. No capitulo 17, vemos que Paulo e seu companheiro missionário, Silas, passaram um tempo em tessalônica pregando o evangelho de Cristo aos judeus da sinagoga local. No versículo 14, ficamos sabendo que a dupla ganhou alguns convertidos de destaque:

Atos 17: 14 “E alguns deles foram persuadidos e se juntaram a Paulo e Silas, assim como muitos gregos piedosos, junto com um grande número de destacadas mulheres”.

 

A idéia de mulheres serem importantes, sem falar em convertidas de destaque, era demais para alguns copistas. Por isso, o texto foi modificado em alguns manuscritos, de modo que agora lemos:

Atos 17: 14 “E alguns deles foram persuadidos e se juntaram a Paulo e Silas, assim como muitos gregos piedosos, junto com um grande número de viúvas de homens de destaque”.

 

O texto passa a dizer que os homens são proeminentes, não as viúvas que se converteram. Que mudança!

Vejamos como está o texto nas nossas traduções:

Atos 17: 14 (NVI) alguns dos judeus foram persuadidos e se juntaram a Paulo e Silas, bem como muitos gregos tementes a Deus, e não poucas mulheres de alta posição.

Atos 17: 14  (DO)  e alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo  e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos, e não poucas mulheres principais.

Atos 17: 14  (NTLH)  Paulo  e Silas conseguiram convencer disso algumas daquelas pessoas, as quais se juntaram a eles. Um grande número de não-judeus convertidos ao judaísmo e muitas Senhoras da alta sociedade também se juntaram ao grupo.

Atos 17: 14  (RA)  alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo  e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres.

Atos 17: 14  (RC)  e alguns deles creram e ajuntaram-se com Paulo  e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos e não poucas mulheres distintas.

Atos 17: 14  (TB)  alguns deles ficaram persuadidos, e se associaram com Paulo  e Silas, bem como uma grande multidão de gregos devotos e não poucas mulheres de qualidade.

 

Entre os companheiros de Paulo no livro de Atos, havia um casal chamado Áquila e Priscila. Por vezes, quando são mencionados, o autor traz o nome da esposa por primeiro, como se ela tivesse algum tipo de destaque tanto no casamento como na missão cristã (como acontece em romanos 16:3, onde ela é chamada de Priscila). Como era de se esperar, alguns escribas, por vezes, se ofendiam com essa seqüência e a invertiam, ou a inverteram em vários manuscritos, de modo que o homem passa a ter o que lhe é devido pela menção de seu nome em primeiro lugar: Áquila e Priscila, em vez de Priscila e Áquila. Em resumo, houve debates nos primeiros séculos da igreja sobre o papel das mulheres e, por vezes, esses debates refletiram na transmissão textual do próprio novo testamento, visto que os copistas às vezes mudavam seus textos para fazê-los coincidir mais perto com a opinião dos limitados copistas sobre o papel das mulheres na igreja. Infelizmente isto afetou a igreja até nos dias de hoje, pois existem igrejas que não permitem as mulheres desenvolverem papel de destaque por causa destes textos adulterados do novo testamento.

 
13) Conclusão: As mulheres Jesus e o Novo Testamento

Gostaria de concluir fazendo um pequeno resumo deste estudo e chegando a algumas conclusões:

a) Na sociedade judaica na época de Jesus era incomum para não dizer imoral um rabino ensinar Torah, a Lei de Moisés a mulheres e pior ainda ter discípulas mulheres que o seguissem e o ajudassem a sobreviver, porém Jesus rompeu com esta tradição e lei rabínica e não bíblica. Isto era uma lei rabínica e não determinação da lei escrita que é a Torah. Na época de Jesus as interpretações rabínicas da Torah deram origem a uma série de normas e códigos jurídicos que originou a Halachah judaica, ou seja, a Lei Judaica, esta lei judaica foi organizada das polemicas discussões dos grandes rabinos a cerca de como cumprir os mandamentos da Torah escrita, então desta forma surgiu uma outra Torah, que os fariseus chamavam de Torah Oral, ou seja, de Lei Oral. Bem, como mostra o texto abaixo Jesus tinha seguidoras mulheres:

 

Lucas 8: 1  Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, 2  e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; 3  e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens.

 

b) Já vimos também neste estudo que as mulheres eram impedidas por esta mesma Lei Oral rabínica de serem testemunhas tanto de defesa como de acusação num tribunal judaico da época. E o pior é que usavam um texto da Torah, ou melhor, de Gênesis 18:11-15 para defender tal interpretação. Jesus como também seria de se esperar rompeu com tal tradição e lei rabínica, tanto é verdade que as primeiras testemunhas da ressurreição foram as mulheres. Onde estavam os discípulos homens quando Jesus foi preso e crucificado? Ora todos os discípulos segundo os evangelhos sinópticos fugiram com medo, não sobrou um sequer. E quem é que seguiu Jesus desde até a crucificação? Foram as mulheres. Onde estava Pedro que disse “ te seguirei até a morte” ? Fugiu com medo e além disso negou três vezes ao mestre dizendo que não o conhecia. Veja os textos abaixo e comprove:

 

Mateus 27:55  Estavam ali muitas mulheres, observando de longe; eram as que vinham seguindo a Jesus desde a Galiléia, para o servirem;

 

Marcos 15:40  Estavam também ali algumas mulheres, observando de longe; entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé;

 

c) Após a morte de Jesus várias mulheres influentes e de alta posição continuaram a seguir os apóstolos e os ensinos de Jesus:

Atos 17:4  Alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres.

Atos 17:12  Com isso, muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens.

 

d) Fico imaginando onde foram parar Maria mãe de Jesus e Maria Madalena e o papel que elas desenvolveram nas primeiras comunidades cristãs. Felizmente restaram alguns poucos testemunhos sobre o papel das mulheres na igreja primitiva como o que selecionei abaixo:

 

NTLH - Romanos 16:7  Saudações a Andrônico e à irmã Júnia, meus patrícios judeus, que estiveram comigo na prisão. Eles são apóstolos bem conhecidos e se tornaram crentes antes de mim.

 

Note que Paulo fala com todas as letras que Júnia que era esposa de Andrônico era uma apostola juntamente com o seu marido, infelizmente as traduções atuais da Bíblia tentam esconder tal informação adulterando o nome para Júnias que é masculino. E hoje quase dois mil anos depois a novela continua, o muro de discriminação que Jesus e os apóstolos derrubaram foi reerguido pela própria Igreja dominante, a grande maioria das Igrejas discriminam as mulheres e não as admitem como pastoras nem líderes religiosos. Espero que este estudo atinja o seu objetivo que é diminuir o preconceito para com as santas mulheres de Deus.

 

Bibliografia:

 

  1. O que Jesus disse? O que Jesus não disse? Bart D. Ehrman. Editota Prestigo/Ediouro
  2. Verdades e mentira sobre o chamado Jesus. Aderbal Pacheco. Editora DPL.
  3. A face oculta das religiões. José Reis Chaves. Editota  Martin Claret.
  4. O evangelho perdido de “Q” e as origens cristãs. Burton L. mack. Editota Imago.
  5. Ditos primitivos de Jesus. Uma introdução ao ‘proto-evangelho de ditos”Q”. Santiago Guijarro Oporto.
  6. As várias faces de Jesus. Geza Vermes. Editora Record.
  7. A paixão. Geza Vermes. Editora Record.
  8. Natividade. Geza Vermes. Editora Record.
  9. Quem é quem na época de Jesus. Geza Vermes. Editora Record.
  10. O judaísmo e as origens do cristianismo III. David Flusser. Editora Imago.
  11. Quem matou Jesus. John Dominic Crossan. Editora Imago.
  12. A Dinastia de Jesus. James D. Tabor. Editora Ediouro.
  13. A ultima semana. Markus Brog e John Dominic Crossan. Editora ...
  14. Coleção Como Ler a Bíblia. Leviticos. Ivo Storniolo. Editora Paulus.
  15. Biblia de Jerusalém. Editora Paulus.
  16. O quinto evangelho de Tomé. Huberto Rohden. Editora Martin Claret.
  17. O evangelho de Judas. Bart D. Ehrman.
  18. Cristo é a questão. Wayne Meeks. Editora Paulus.
  19. Jesus: uma pequena biografia. Martin Forward. Editora Cultrix.
  20. Os manuscritos de qumran e o novo testamento. Gervásio F. Orrú.
  21. A comunidade de qumran e a igreja do novo testamento. Karl Hrmann Schelkle. Edições Paulinas.
  22. 101 perguntas sobre os manuscritos do mar morto. Joseph A. Fitzmeyer, SJ. Edições Loyola.
  23. A odisséia dos essênios. Hugh Schonfield. Editora Mercuryo.
  24. Anjos e Messias, messianismos judaicos e a origem da cristologia. Luigi Schiavo. Edições Paulinas.
  25. História dos Hebreus. Flavio Josefo. Editora CPAD.
  26. Guerras Judaicas. Flavio Josefo. Editora Juruá.
  27. História Eclesiástica. Eusébio de Cesáreia. Editora CPAD.
  28. A Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus.

29.    Como Ler Os Evangelhos- Para Entender O Que Jesus Fazia E Dizia. Félix Moracho. Paulus Editora.

30.    Jesus E A Sociedade De Seu Tempo. J. Mateos E F. Camacho. Editora Paulus.

31.    Jesus E As Estruturas De Seu Tempo. E. Morin. Editora Paulus.

32.    A Palestina No Tempo De Jesus. Vv.Aa. Cristiane Sauliner E Bernard Rolland. Editora Paulus.

33.    A Utopia De Jesus. Juan Mateos. Editora Paulus.

34.    Os Partidos Religiosos Hebraicos Da Época Neotestamentária. Kurt Schubert. Edições Paulinas.

35.    Jerusalém No Tempo De Jesus. J. Jeremias. Paulus Editora.

36.    Contexto E Ambiente Do Novo Testamento. Eduardo Lohse. Edições Paulinas.

37.    A Galiléia Jesus E Os Evangelhos. Sean Freyne. Edições Loyola.

38.    O Novo Testamento Em Seu Ambiente Social. John E. Stambaugh E David L. Balch. Paulus Editora.

39.    Sidur De Orações Judaicas.  Jairo Fridlin. Editora Sefer.

40.    Liturgia judaica. Carmine Di Sante. Editora Paulus.

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