segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A destruição de Jerusalém


Resultado de imagem para destruição de jerusalemA cidade de Jerusalém foi destruída pelos romanos em 70 d.C. O cerco e a queda de Jerusalém são descritos com pormenores gráficos pelo  historiador judeu do primeiro século, Flávio Josefo, no livro Guerras dos Judeus, que foi publicado cerca do ano 75 d.C. De acordo com os Evangelhos, Jesus profetizou este evento aproximadamente no ano 30 d.C. Vejamos o relato de Mateus da profecia de Jesus, e comparemo-lo com a história de Josefo.

Jesus: “Quando, pois,virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; quem estiver sobre o eirado não desça para tirar de casa alguma coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa” (Mateus 24:15-18).

Josefo: “É então um caso miserável, uma visão que até poria lágrimas em nossos olhos, como os homens agüentaram quanto ao seu alimento ... a fome foi demasiado dura para todas as outras paixões... a tal ponto que os filhos arrancavam os próprios bocados que seus pais estavam comendo de suas próprias bocas, e o que mais dava pena, assim também faziam as mães quanto a seus filhinhos... quando viam alguma casa fechada, isto era para eles sinal de que as pessoas que estavam dentro tinham conseguido alguma comida, e então eles arrombavam as portas e corriam para dentro... os velhos, que seguravam bem sua comida eram espancados, e se as mulheres escondiam o que tinham dentro de suas mãos, seu cabelo era arrancado por fazerem isso...” (Guerras dos Judeus, livro 5, capítulo 10, seção 3).

Jesus: “Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!” (Mateus 24:19).

Josefo: “Ela então tentou a coisa mais natural, e agarrando seu filho, que era uma criança de peito, disse, ‘Oh, pobre criança! Para quem eu te preservarei nesta guerra, nesta fome e nesta rebelião? ...’ Logo que acabou de dizer isto, ela matou seu filho e, então, assou-o, e comeu metade dele, e guardou a outra metade escondida para si.” (Guerras, livro 6, capítulo 3, seção 4).

Jesus: “Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado, porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais” (Mateus 24:20-21).

Josefo: “Eu falarei portanto aberta e francamente aqui de uma vez por todas e brevemente: que nenhuma outra cidade sofreu tais misérias nem nenhuma era produziu uma geração mais frutífera em perversidade do que era esta, desde o começo do mundo.” (Guerras, livro 5, capítulo 10, seção 5).

Jesus: “Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas por causa dos escolhidos tais dias serão abreviados” (Mateus 24:22).

Josefo: “Ora, o número daqueles que foram levados cativos durante toda esta guerra foi verificado ser noventa e sete mil, como foi o número daqueles que pereceram durante todo o cerco onze centenas de milhares, a maior parte dos quais era na verdade da mesma nação, porém não pertencentes à própria cidade, pois tinham vindo de todo o país para a festa dos pães asmos e foram subitamente fechados por um exército...” (Guerras, livro 6, capítulo 9, seção 3).

Jesus: “Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada” (Mateus 24:1-2).

Josefo: “Ora, uma vez que César não foi de modo algum capaz de conter a entusiástica fúria dos soldados, e o fogo avançava mais e mais... assim foi a sagrada casa queimada, sem a aprovação de César.” (Guerras, livro 6, capítulo 4, Seção 7). “Ora, tão logo o exército não teve mais pessoas para matar ou saquear ... César deu ordens para que não demolissem mais a cidade inteira e o templo...” (livro 7, capítulo 1, seção 1).

No artigo sobre evidências do número anterior desta revista, examinamos algumas evidências dos manuscritos do Novo Testamento, e vimos que apontam para a conclusão de que seu conteúdo fosse escrito quando e por quem ele declara ter sido escrito. De fato, no caso do Evangelho de Mateus, há um fragmento recentemente descoberto que data de algum tempo antes de 68 d.C. Como foi observado acima, Jerusalém foi destruída em 70 d.C.


Os Judeus foram massacrados por tropas romanas

Quando os judeus se rebelaram contra a autoridade romana em 70 d.C. – por causa, entre outras coisas, dos altos impostos cobrados –, quatro legiões foram levadas por Tito Vespasiano para sufocar a revolta.

Os 70 mil soldados logo viram que a luta não seria fácil. Especialmente quando se defrontaram com as muralhas de Jerusalém, atrás das quais milhares de combatentes judeus buscaram refúgio. A tentativa de invadir a cidade ou o cerco durou seis  meses ou 180 dias .
Constantemente ameaçados por ações de contra-ataque, os legionários fizeram um dos maiores e mais complexos cercos da Antiguidade. Construíram muralhas, torres de assalto, catapultas, escadas e diversos outros equipamentos que faziam das legiões romanas tropas únicas no mundo antigo – além de ótimos guerreiros, eram também excelentes engenheiros.
O saque de Jerusalém, à partir da parede interior do Arco de Tito, Roma.


Ao fim do trágico combate, quando finalmente conseguiram vencer as três muralhas consecutivas que protegiam a cidade, os legionários, irritados com a resistência dos judeus, promoveram um verdadeiro banho de sangue (foram pelo menos 100 mil mortos) e terminaram por incendiar o Templo de Jerusalém, escravizando os sobreviventes.

Briga demorada
Setenta mil legionários participaram do cerco
Catapulta semelhante a usada na

Puro terrorismo
Para “estimular” os sitiados à rendição, era comum os atacantes promoverem atos de puro terror. Os judeus apanhados pelos romanos fora das muralhas eram crucificados na frente de todos. Um mar de cruzes servia como um aviso macabro do que estava por vir.

Regime forçado
Uma das maneiras de forçar a rendição dos judeus era fazê-los passar fome. E, com a muralha, não havia como fugir. Em Jerusalém, ela foi construída pelas legiões com madeira e terra em tempo recorde: quatro dias.

Tiro ao alvo
A balística – arte de acertar os projéteis no local designado – era cumprida com precisão pela legião romana. Para medir as distâncias dos tiros, os soldados usavam um projétil de chumbo com uma linha amarrada. Já os judeus, a cada bala lançada, avisavam seus camaradas para se proteger. A frase-senha era meio bizarra: “Bebê chegando”.

Só na sabotagem
Os judeus usaram diversos e engenhosos contra-ataques, como túneis subterrâneos, por onde saíam à noite para realizar ataques-relâmpagos contra os romanos. Quando os romanos tomaram a segunda muralha, por exemplo, foram atacados por milhares de guerrilheiros que haviam se emboscado nas casas e escombros do local.

Peça de ataque
A torre de assalto, de madeira e couro, era o alvo predileto dos defensores judeus – e uma peça a ser protegida a qualquer custo pelos romanos. O único jeito de deter o monstro era incendiando-o. E foi o que fez um grupo de judeus liderado por João, o Idumeu, numa ousada ação de sabotagem.

Bate-estaca
O exército romano usou bate-estacas para tentar abrir vãos nas muralhas de Jerusalém. Foi assim que a cidade caiu, ao fim do cerco. Vinte homens e um corneteiro tomaram o local por uma brecha na fortaleza Antônia. Os judeus se imaginaram vítimas de um ataque em larga escala e fugiram.


Em abril do ano 66 de nossa era, quando o governador romano confiscou dezessete talentos do tesouro do Templo, os nacionalistas judeus se rebelaram. Eles se apoderaram do Templo, interromperam os sacrifícios diários em honra ao imperador romano e capturaram a fortaleza de Massada.

A Revolta

A Grande Guerra, ou Primeira Revolta Judaica, foi um evento ímpar naquela região, porque os judeus foram o único povo no antigo Oriente Próximo a lançar uma ofensiva em larga escala contra o Império Romano. Ímpar também foi o fato de que nenhum outro conflito da Antigüidade foi relatado com tantos detalhes por uma testemunha ocular. Essa testemunha foi um historiador judeu do primeiro século chamado Yosef ben Mattityahu, mais conhecido como Flávio Josefo. Josefo era um ex-fariseu e comandante das forças nacionalistas judaicas na Galiléia. O historiador romano Dio Cássio também forneceu outro importante relato, baseado em documentos militares oficiais.

Em resposta à insurreição judaica, concentrada principalmente em Jerusalém, Vespasiano, principal comandante romano, foi enviado para sufocar o levante com cerca de cinqüenta mil soldados. O ataque de Vespasiano começou no norte de Israel que, ao contrário de Jerusalém, ofereceu pouca resistência. Por exemplo, as famílias judias que ocupavam a fortaleza galiléia de Jotapata, defendida por Josefo, preferiram cometer suicídio a se renderem ao inimigo. Quanto a Josefo, ele passou para o lado dos romanos.

Uma exceção foi a cidade de Gamla, nas Colinas de Golã, que, no outono do ano 67 d.C., tentou conter o avanço romano em direção a Jerusalém. Os romanos, porém, dizimaram a cidade, massacrando quatro mil judeus. Para que suas famílias não fossem vítimas da brutalidade de Roma, cerca de cinco mil judeus tiraram a própria vida, saltando para a morte do alto dos abismos que cercavam aquela área. A atitude heróica daquela cidade lhe rendeu o título de "Massada do Norte".

O cerco de Jerusalém no ano 70 dC foi um acontecimento decisivo na Primeira revolta judaica. Ela foi seguida pela queda de Masada em 73 dC.

O exército romano, liderada pelo futuro imperador Tito, com Tibério Júlio Alexandre como seu segundo em comando, sitiaram e conquistaram a cidade de Jerusalém, que havia sido ocupada por seus defensores judeus em 66 dC. A cidade e seu famoso Templo foram destruídos em 70 dC.

A destruição do Templo é ainda anualmente lamentado com o jejum judaico Tishá Be Av, e o Arco de Tito, que mostra e celebração do saque de Jerusalém e do Templo, ainda está em Roma.

Apesar dos sucessos iniciais em repelir os cercos Romanos, o Zealotes lutavam entre si, pela liderança. Eles não tinham disciplina, treinamento e preparação para as batalhas que se seguiriam.

Tito cercou a cidade, com três legiões (V Macedonica, OmeuNuke XII, XV Apolinário), no lado ocidental, e uma quarta (X Fretensis) sobre o Monte das Oliveiras, a leste. Ele colocou pressão sobre os alimentos e abastecimento de água dos moradores, permitindo que os peregrinos entrassem na cidade para comemorar a Páscoa e, em seguida, recusando-lhes saída. Após os judeus terem mataram um número de soldados romanos, Tito enviou Josefo, o historiador judeu, para negociar com os defensores, o que acabou com os judeus ferindo o negociador com uma seta. Em uma ocasião Tito quase foi capturado durante um súbito ataque, mas escapou.

Em meados de maio Tito definiu destruir o Terceiro muro construído recentemente, rompendo-o, bem como a segunda parede, e voltando sua atenção para a Fortaleza de Antônia ao norte do Monte do Templo. Os romanos foram atraídos para combates de rua com os zelotes, que foram, então, condenada a retirar-se para o templo para evitar grandes perdas. Josephus não em outra tentativa de negociação, e os ataques judeus impediram a construção de torres de cerco na Fortaleza de Antonia. Comida, água e outras disposições foram diminuindo dentro da cidade, mas pequenas partes de forragem conseguiu esgueirar-se para o abastecimento da cidade. Para colocar um fim às forrageiras, foram emitidas ordens para construir um novo muro, e construção da torre de cerco foi reiniciado também.

Depois de várias tentativas fracassadas de violação ou de escalar os muros da Fortaleza Antônia, os romanos finalmente lançou um ataque secreto, aos guardas enquanto dormiam e tomara a fortaleza. Com vista para o recinto do Templo, a fortaleza desde um ponto perfeito para atacar o próprio Templo. Os Aríetes tiveram pouco progresso, mas durante a luta em si, eventualmente, as paredes ficaram em chamas, quando um soldado romano atirou um tição em uma das paredes do Templo. Destruir o Templo não estava entre as metas de Tito. O mais provável, Tito quis agarrá-la e transformá-lo em um templo dedicado ao imperador romano e um panteão romano. Mas o fogo se espalhou rapidamente e logo estava fora de controle. O templo foi destruído em no final de agosto, e as chamas se espalharam nas seções residencial da cidade. As legiões romanas esmagaram rapidamente a resistência remanescente dos judeus. Parte dos judeus restantes escaparam através de túneis subterrâneos ocultos, enquanto outros fizeram uma última resistência na Cidade Alta. Esta defesa parou o avanço dos romanos como eles tiveram que construir torres de assalto para atacar os judeus remanescentes. A cidade foi completamente sob controle romano em 7 de setembro e os romanos continuaram a perseguir os judeus que haviam fugido da cidade.


Destruição de Jerusalém

Sulpício Severo (363 - 420), referindo-se em sua crônica de uma anterior por escrito, Tácito (56 - 117), alegou que Tito favoreceu a destruição do Templo de Jerusalém para ajudar a arrancar e destruir o povo judeu. O relato de Flávio Josefo Tito descrito como moderado em sua abordagem e, depois de conferenciar com os outros, ordenando que os mil anos de idade (na época) Templo ser poupados. (Templo de Salomão, datado do século 10 aC, embora a estrutura física foi o Templo de Herodes, cerca de 90 anos na época.) De acordo com Josephus, os soldados romanos ficaram furiosos com os ataques e táticas dos judeus e , contra as ordens de Tito, incendiaram um apartamento ao lado do Templo, que logo se espalhou por todo.

Josephus agiu como mediador para os romanos e, quando as negociações fracassaram, testemunhou o cerco e rescaldo. Ele escreveu:

Agora, logo que o Exército não tinha mais pessoas para matar ou roubar, porque não ficou ninguém para ser objeto de sua fúria (por que não teria poupado algum, se houvesse permanecido qualquer outro trabalho a ser feito), [Tito] César deu ordens para que eles agora devem destruir toda a cidade eo Templo, mas deve deixar o maior número de torres de pé como eles eram as de maior eminência, isto é, Phasaelus e Hípico e Mariamne; e tanto da parede em anexo a cidade no lado oeste. Este muro foi poupado, a fim de permitir um acampamento para os que estavam a residir na guarnição [na Cidade Alta], como eram as torres [os três fortes] também poupados, a fim de demonstrar à posteridade que tipo de cidade que foi , e como bem fortificada, que o valor romano tinha subjugado, mas para todo o resto da parede [em torno de Jerusalém], que era tão completamente estabelecido, mesmo com o solo por aqueles que cavaram-lo até a base, que havia deixado nada fazer aqueles que vieram de lá que ela [Jerusalém] jamais foi habitada. Este foi o final que chegou a Jerusalém pela loucura dos que foram para as inovações, uma cidade de outra forma de grande magnificência e da fama de valente entre todos os homens. E realmente, o ponto de vista muito em si foi uma coisa triste; país para aqueles lugares que eram adornadas com árvores e jardins agradáveis, foram-se agora desolado todos os sentidos, e suas árvores estavam todas cortadas. Nem poderia qualquer estrangeiro que anteriormente haviam visto a Judéia e os subúrbios mais bonitas da cidade e, agora, viu-o como um deserto, mas lamento e luto, infelizmente, a tão grande mudança. Para que a guerra tinha previsto todos os sinais de beleza muito desperdício. Também não havia ninguém que tivesse conhecido o lugar antes, tinha chegado a uma repentina para ele agora, ele teria conhecido lo novamente. Mas, embora ele [estrangeiro] não eram da própria cidade, mas teria ele perguntou por ela.


Josefo afirma que 1.100.000 pessoas morreram durante o cerco, dos quais a maioria eram judeus, e que 97.000 foram capturados e escravizados, incluindo Simão Bar Giora e João de Gischala. Muitos fugiram para áreas em torno do Mediterrâneo. Tito teria se recusado a aceitar a coroa da vitória, pois "não há mérito em vencer povo abandonado pelo seu próprio Deus."
FLAVIO JOSEFO – ANTIGUIDADES JUDAICAS


ANTIGUIDADES JUDAICAS LIVRO XVIII - Capítulo 4

Revolta dos judeus contra Pilatos, governador daJudéia,por ter feito entrar em Jerusalém as bandeiras, que traziam a imagem do imperador. Ele as retira. Louvores de JESUS CRISTO. Horrível ofensa feita a uma dama romana pelos sacerdotes da deusa ísis e castigo que Tibério lhes inflige.

770.  Pilatos, governador da Judéia, enviou dos quartéis de inverno de Cesaréia a Jerusalém tropas que traziam em seus estandartes a imagem do imperador, o que é tão contrário às nossas leis que nenhum outro governador antes dele o fizera. As tropas entraram de noite, e por isso apenas no dia seguinte é que se percebeu. Imediatamente os judeus foram em grande número procurar Pilatos em Cesaréia e durante vários dias rogaram-lhe que removesse aqueles estandar­tes. Ele negou o pedido, dizendo que não o poderia fazer sem ofender o impera­dor. Mas como eles continuavam a insistir, ordenou aos seus soldados, no sétimo dia, que secretamente se conservassem em armas e subiu em seguida ao tribunal que mandara erguer de propósito no local dos exercícios públicos, porque era o lugar mais apropriado para escondê-los.

Os judeus, porém, insistiam no pedido. Ele então deu o sinal aos soldados, que os envolveram imediatamente por todos os lados, e ameaçou mandar matá-los se continuassem a insistir e não voltassem logo cada qual para a sua casa. A essas palavras, eles lançaram-se todos por terra e apresentaram-lhe a garganta descoberta, para mostrar que a observância de suas leis lhes era muito mais cara que a própria vida. Aquela constância e zelo tão ardentes pela religião causou tanto assombro a Pilatos que ele ordenou que se levassem os estandarte de Jeru­salém para Cesaréia.

771.  Em seguida, Pilatos tentou retirar dinheiro do tesouro sagrado para fazer vir a Jerusalém, pelos aquedutos, a água cujas nascentes distavam uns duzentos estádios. O povo ficou de tal modo revoltado que veio em grupos numerosos queixar-se e rogar-lhe que não continuasse aquele projeto. E, como acontece ordinariamente no meio de uma população exaltada, alguns chegaram de dizer-lhe palavras injuriosas. Ele ordenou então aos soldados que escondessem cacetes debaixo da túnica e rodeassem a multidão. Quando recomeçaram as injúrias, sinalizou aos soldados para que executassem o que havia determinado. Eles não somente obedeceram, como fizeram mais do que ele desejava, pois espancaram tanto os sediciosos quanto os indiferentes. Os judeus não estavam armados, e por isso muitos morreram e vários foram feridos. E a sedição terminou.

772.  Nesse mesmo tempo, apareceu JESUS, que era um homem sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis eram as suas obras. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muito judeus, mas também por muitos gentios. Ele era o CRISTO (MESSIAS). Os mais ilustres dentre os de nossa nação acusaram-no perante Pilatos, e este ordenou que o crucificassem. Os que o haviam amado durante a sua vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas haviam predito, dizendo também que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, os quais vemos ainda hoje, tiraram o seu nome.


ANTIGUIDADES JUDAICAS LIVRO XVIII - Capítulo 7

Guerra entre Aretas, rei de Petra, e Herodes, o tetrarca, que, tendo desposado a filha daquele, queria repudiá-la para casar-se com Herodias, filha de Aristóbulo e mulher de Herodes, seu irmão por parte de pai. O exército de Herodes é totalmente derrotado, e os judeus atribuem ao fato de ele ter colocado João Batista na prisão. Posteridade de Herodes, o Grande.

780.  Nesse mesmo tempo, aconteceu, pelo motivo que passo a descrever, uma grande guerra entre Herodes, o tetrarca, e Aretas, rei de Petra. Herodes, que havia desposado a filha de Aretas e vivera muito tempo com ela, passou, numa viagem a Roma, pela casa de Herodes, seu irmão por parte de pai, filho da filha de Simão, sumo sacerdote, e concebeu tal paixão pela mulher dele, Herodias filha de Aristóbulo, irmão de ambos e irmã de Agripa, que depois foi rei , que propôs desposá-la logo que estivesse de volta de Roma e repudi­asse a filha de Aretas.

Ele continuou a sua viagem e voltou após cumprir as incumbências de que fora encarregado. A sua mulher veio a saber de tudo o que se havia passado entre ele e Herodias, mas nada demonstrou e rogou-lhe que permitisse ir a Maquera, fortaleza situada na fronteira dos dois territórios, que então pertencia ao rei seu pai. Como Herodes não julgava que ela soubesse de seu projeto, não teve dificuldade em atendê-la. O governador da praça recebeu-a muito bem, e um grande número de soldados escoltou-a até a corte do rei Aretas.

Ela contou-lhe da resolução tomada por Herodes, e ele sentiu-se muito ofen­dido. Havendo já surgido algumas divergências entre os dois príncipes, por causa dos limites do território de Gamala, eles entraram em guerra; todavia, nem um nem outro tomou parte dela em pessoa. A batalha travou-se, e o exército de Herodes foi completamente derrotado, devido à traição de alguns refugiados que, expulsos da tetrarquia de Filipe, se alistaram nas tropas de Aretas. Herodes escreveu a Tibério, contando o que havia acontecido, e este ficou tão enfurecido contra Aretas que ordenou a Vitélio que lhe declarasse guerra e o trouxesse vivo, se possível, ou lhe mandasse a cabeça, caso ele viesse a morrer na luta.

781. Vários judeus julgaram a derrota do exército de Herodes um castigo de Deus, por causa de João, cognominado Batista. Era um homem de grande piedade que exortava os judeus a abraçar a virtude, a praticar a justiça e a receber o batismo, para se tornarem agradáveis a Deus, não se contentando em evitar o pecado, mas unindo a pureza do corpo à da alma. Como uma grande multidão o seguia para ouvir a sua doutrina, Herodes, temendo que ele, pela influência que exercia sobre eles, viesse a suscitar alguma rebelião, porque o povo estava sempre pronto a fazer o que João ordenasse, julgou que devia prevenir o mal, para depois não ter motivo de se arrepender por haver esperado muito para remediá-lo. Por esse motivo, mandou prendê-lo numa fortaleza em Maquera, de que acabamos de falar, e os judeus atribuíram a derrota de seu exército a um castigo de Deus, devido a esse ato tão injusto.

782. Vitélio, para executar a ordem recebida de Tibério, tomou duas legiões e suas cavalarias e outras tropas que os reis sujeitos ao Império Romano lhe envia­ram. Na sua marcha em direção a Petra, chegou a Ptolemaida. O seu intento era fazer passar o exército através da Judéia, porém os maiorais dessa nação vieram pedir-lhe que não o fizesse, porque as legiões romanas traziam em seus estandar­tes figuras que eram contrárias à nossa religião. Ele satisfez-lhes o pedido e man­dou que os soldados passassem pelo campo. Acompanhado pelo tetrarca e seus amigos, foi a Jerusalém oferecer sacrifícios a Deus, pois se aproximava o dia de uma festa. Ele foi recebido com grandes honras e lá permaneceu três dias.

783.  Nesse tempo, tirou o sumo sacerdócio de jônatas para dá-la a TeóFílon, seu irmão. E, havendo recebido a notícia da morte de Tibério, fez o povo pres­tar juramento de fidelidade a Caio Calígula, que lhe sucedera no império. Essa mudança o fez recolher as tropas, e ele enviou-as aos quartéis de inverno e voltou a Antioquia.

ANTIGUIDADES JUDAICAS LIVRO XVIII - Capítulo 8

Albino sucede a Festo no governo dajudéia e o reiAgripa dá e tira diversas vezes o sumo sacerdócio. Anano, sumo sacerdote, manda matar Tiago. Agripa engrandece e embeleza a cidade de Cesaréia de Filipe e a chama Neroniana. Graças que ele concede aos levitas. Relação de todos os sumos sacerdotes desde Aarão.

856.  Morrendo Festo, Nero deu o governo da Judéia a Albino e o rei Agripa tirou o sumo sacerdócio de José para dá-lo a Anano. Anano, o pai, foi consi­derado como um dos homens mais felizes do mundo, pios gozou quanto quis dessa grande dignidade e teve cinco filhos que a possuíram também depois dele; o que jamais aconteceu a qualquer outro. Anano, um dos de que nós falamos agora, era homem ousado e empreendedor, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais severos de todos judeus e os mais rigorosos nos julgamentos. Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento. Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verda­deiro amor pela observância de nossas leis. Mandaram secretamente pedir ao rei Agripa que ordenasse a Anano, nada mais fazer de semelhante, pois o que ele fizera, não se podia desculpar. Alguns deles foram à presença de Albino, que então tinha partido de Alexandria, para informá-lo do que se havia passa­do e dizer-lhe que Anano não podia nem devia ter reunido aquele conselho sem sua licença. Ele aceitou estas desculpas e escreveu a Anano, encoleriza-do, ameaçando mandar castigá-lo. Agripa, vendo-o tão irritado, tirou-lhe o sumo sacerdócio, que exercera somente durante quatro meses, e a deu a Jesus, filho de Daneu.

 FLÁVIO JOSEFO – GUERRAS DOS JUDEUS

guerras judaicas LIVRO I - INTRODUÇÃO

Assim, começarei minha história por onde seus autores e nossos profetas ter­minaram as suas. Referirei particularmente, com toda a exatidão que me for possível, a guerra que se travou no meu tempo e contentar-me-ei em tocar bre­vemente o que se passou nos séculos precedentes.

Direi de que modo o rei Antíoco Epifânio, depois de ter tomado Jerusalém e de tê-la possuído durante três anos e meio, de lá foi expulso pelos filhos de Matatias, hasmoneu.


Observe Josefo fala dos três anos e meio das profecias de Daniel, ou seja, um tempo, dois tempos e metade de um tempo, que foi o tempo que durou a profanação do Templo em Jerusalém feita pelos gregos.


guerras judaicas livro v - Capítulo 32

Espantosa miséria em que se achava Jerusalém e invencível teimosia dos rebeldes. Tito faz erguer quatro novas plataformas.

424. Os judeus, vendo-se então inteiramente cercados na cidade, deses­peravam-se de uma vez de sua salvação. A fome que sempre aumentava, devorava famílias inteiras. As casas estavam cheias de cadáveres de mulheres e de crianças, e as ruas, de corpos de anciãos. Os moços, inchados e camba­leando pelas ruas, mais pareciam espectros do que seres vivos e o menor obstáculo os fazia cair. Assim, não tinham forças para enterrar os mortos e quando mesmo as tivessem, não teriam podido fazê-lo, quer por seu número muito elevado, quer porque eles mesmos não sabiam quanto tempo ainda lhes restaria de vida. Se alguém se esforçava por prestar esse dever de pieda­de, morria também quase sempre de fazê-lo; outros arrastavam-se como po­diam até o lugar de sua sepultura, para ali esperar o momento da morte, que estava próxima. No meio de tão espantosa miséria não se ouviam choros nem lamentos, não se escutavam gemidos, porque aquela fome horrível com que a alma estava inteiramente ocupada afogava todos os outros sentimentos. Os que ainda viviam, contemplavam os mortos com olhos enxutos, e seus lábios inchados e lívidos lhes faziam ver a morte esculpida no rosto. O silêncio era tão grande em toda a cidade, como se ela tivesse sido sepultada numa noite profunda ou que lá não vivesse mais um ser humano. Em tal contingência aqueles celerados, que de tudo eram a causa principal, mais cruéis que a mesma fome e que os animais ferozes, entravam naquelas casas que eram mais sepulcros que lares, e despojavam os mortos, tiravam-lhes até as vestes, e acrescentando ainda a zombaria a tão espantosa desumanidade feriam com golpes os que ainda respiravam para experimentar se suas espadas ainda ti­nham gume. Mas ao mesmo tempo, por uma crueldade contrária, recusa­vam-se a matar, com desprezo, àqueles que lhos pediam, ou ainda empres­tar-lhes a espada para que eles mesmos se matassem, a fim de se libertar dos males que a fome os fazia sofrer. Os moribundos, ao entregar a alma, volta­vam os olhos para o Templo, tinham o coração partido de dor por deixar ainda com vida aqueles celerados, que o profanavam de maneira tão horrível. Aqueles monstros de impiedade, no começo, enterravam os mortos à custa do poder público, para se livrar do mau cheiro. Mas não podendo mais fazê-lo, jogavam-nos por cima do muro, ao fundo dos vales. O horror que Tito sentiu por vê-los, quando deu a volta a toda a praça e o estranho fedor do apodrecimento dos cadáveres, fê-lo soltar um profundo suspiro; ele elevou suas mãos para o céu e tomou a Deus por testemunha de que não era culpa­do de tudo aquilo. Este é o estado mais que deplorável de tão infeliz e miserá­vel cidade.

Como os romanos não temiam mais os ataques dos judeus, que o desâni­mo, bem como a fome, mantinha dentro de seus muros, viviam tranqüilos e nada faltava ao seu exército, porque traziam da Síria e das províncias vizinhas trigo e todas as outras provisões de que podiam ter necessidade. Eles os expu­nham à vista dos judeus e tão grande abundância de alimentos incitava-lhes ainda mais a fome, aumentando neles o pavor de sua miséria. Nada, porém, era capaz de mover os rebeldes. Tito para salvar, pelo menos, tomando a cida­de o mais depressa possível, o restante desse pobre povo, de que ele sentia compaixão, mandou erguer novas plataformas, embora tivessem de fazê-lo com grandes dificuldades, pela falta de materiais, porque haviam empregado toda a madeira naquelas que haviam sido destruídas pelo fogo, e os soldados deviam ir buscar novos troncos de árvores a noventa estádios da cidade. Começaram perto da fortaleza Antônia a erguer quatro plataformas, maiores que as prece­dentes, e Tito estava continuamente a cavalo, para apressar aquele estafante trabalho, que devia tirar todas as últimas esperanças dos rebeldes; mas eles eram incapazes de se arrepender. Parece que tinham o corpo e a alma comple­tamente isolados sem se comunicarem entre si, tão pouco ou nada se comovi­am com o que muito os deveria impressionar e seus corpos eram insensíveis à dor. Eles estraçalhavam como cães os cadáveres daquele pobre povo, e enchi­am as prisões com os que ainda respiravam.

 guerras judaicas Livro VI - Capítulo 1

Horrível miséria a que Jerusalém se encontra reduzida e incrível desolação de todos os países dos arredores. Os romanos terminam em vinte e um dias suas novas plataformas.

432. Os males que afligiam Jerusalém aumentavam cada vez mais; o furor dos revoltosos aumentava também, pois a fome era tal que os roubos não impediam que eles também começassem a se sentir envolvidos na mesma miséria geral, que já tinha destruído grande parte do povo e que reduzia ao último extremo os que ainda viviam. Os cadáveres que enchiam a cidade e a contaminavam com seu mau cheiro, o que não se podia contemplar sem horror, retardavam mesmo os ataques, pois a quantidade não era menor que a dos que poderiam ter tomba­do numa grande batalha, dentro dos muros. Havia mortos por toda a parte; pelas estradas, pelas ruas, não se podia passar sem que pisasse nalgum cadáver. Mas o endurecimento de seu coração era tal que esse espetáculo tão horrendo não os impressionava, não lhes causava a compaixão, e não os fazia considerar que aumentariam bem depressa o número dos que eles calcavam aos pés com tanta desumanidade. Depois de ter numa guerra interna manchado suas mãos no sangue de seus próprios concidadãos, pensavam agora somente em lutar contra os romanos, numa guerra externa e parecia que eles censuravam a Deus que adiava o castigo, pois não havia mais esperança de vencer; era o desespero que lhes inspirava tanta coragem e ousadia.

433.  Entretanto, os romanos em vinte e um dias terminaram as novas plata­formas, não obstante a dificuldade em encontrar a madeira necessária para tal obra. Eles devastaram toda a região a oitenta estádios nos arredores de Jerusalém; e jamais terra ficou tão desfigurada. Onde outrora havia bosques e árvores frondosas, jardins deliciosos, não havia agora uma única árvore, e não somente os judeus, mas os estrangeiros, que antes admiravam aquela formosa parte da Judéia, agora não seriam capazes de reconhecer, nem ver os maravilhosos arra­baldes daquela grande cidade, convertidos em terrenos abandonados e silves­tres, sem que tão deplorável mudança os fizesse derramar lágrimas. Foi assim que a guerra de tal modo destruiu uma região tão favorecida por Deus, que já não lhe restava o menor vestígio de sua beleza antiga e podia-se perguntar em Jerusalém, onde então estava Jerusalém.

guerras judaicas LIVRO VI - Capítulo 21

Espantosa história de uma mãe que matou e comeu em Jerusalém seu próprio filho. Horror que com isso Tito veio a sentir.

459. Uma mulher chamada Maria, filha de Eleazar, muito rica, tinha vindo com algumas outras, à aldeia de Batechor, isto é, casa de hissope, refugiar-se em Jerusa­lém, e lá se viu cercada. Aqueles tiranos, cuja crueldade martirizava os habitantes, não se contentaram em lhe arrebatar tudo o que tinha levado de mais precioso, tomaram-lhe ainda por diversas vezes o que ela havia escondido para seu alimento. A dor de se ver tratada daquela maneira lançou-a em tal desespero, que, depois de ter feito mil imprecações contra eles, usou de palavras ofensivas, procurando irritá-los, a fim de que a matassem, mas nem um só daqueles tigres, por vingança de tantas injúrias ou por compaixão, lhe quis usar dessa graça. Ela se viu reduzida assim, às últimas, não podia esperar socorro de ninguém; e a fome que a devorava, e ainda mais, o fogo que a cólera tinha acendido no seu coração, inspiraram-lhe uma resolu­ção que causa horror à própria natureza. Ela arrancou o filho do próprio seio e disse-lhe: "Criança infeliz, da qual nunca se poderá chorar bastante a desgraça de ter nascido durante esta guerra, durante a carestia e no meio de diversas facções, que conspiram sem trégua, para a ruína de nossa pátria, para que te haveria eu de conservar a vida? Para ser talvez escrava dos romanos, quando mesmo eles nos quisessem ajudar? A fome nos teria feito morrer antes mesmo de cairmos em suas mãos. E esses tiranos, que nos pisam a garganta, não são eles ainda mais temíveis e cruéis que os romanos e a fome? Não é então preferível que tu morras, para servir-me de alimento, para enraivecer esses revoltosos e deixar atônita a posteridade, com uma ação tão trágica, que não seria a única a faltar para encher a medida dos males que tornam hoje os judeus o povo mais infeliz da terra?" Depois de ter assim falado ela matou o filho, cozeu-o, comeu uma parte e escondeu a outra. Aqueles ímpios, que só viviam de rapina, entraram em seguida naquela casa; tendo sentido o cheiro daquela iguaria inominável, ameaçaram matá-la, se ela não lhes mostrasse o que tinha preparado para comer. Ela respondeu que ainda lhe restava um pedaço da iguaria e mostrou-lhes restantes do corpo do próprio filho. Ainda que tivessem um coração de bronze, tal espetáculo causou-lhes tanto horror, que eles pareciam fora de si. Ela, porém, na exaltação que lhe causava o furor, disse-lhes, com o rosto con-vulsionado: "Sim, é meu próprio filho que vedes, e fui eu mesma que o matei. Podeis comê-lo, também, pois eu já comi. Sois talvez menos corajosos que uma mulher e tendes mais compaixão que uma mãe? Se vossa piedade não vos permite aceitar essa vítima, que vos ofereço, eu mesma acabarei de comê-lo". Aqueles homens que até então não haviam sabido o que era a compaixão, retiraram-se trêmulos, e por maior que fosse a sua avidez em procurar alimento, deixaram o restante daquela detestável iguaria à infeliz mãe. A notícia de fato tão funesto espalhou-se incontinenti por toda a cidade. O horror que todos sentiram foi o mesmo, como se cada qual tivesse cometido aquele horrível crime; os mais torturados pela fome só desejavam morrer, quanto antes, e julgavam felizes os que já haviam morrido, antes de ter tido ciência deste fato ou ouvido narrar coisa tão execrável.

Os romanos também logo souberam de tudo, isto é, da criança sacrificada por sua própria mãe, para que ela pudesse continuar a viver. Uns não podiam crer no que se dizia; outros sentiam imensa compaixão, mas a maior parte viu acender-se ainda mais o ódio que já sentiam contra os judeus. Tito, para se justificar diante de Deus a esse respeito, protestou em voz alta que ele tinha oferecido aos judeus uma anistia geral de todo o passado e visto que eles tinham preferido a revolta à obedi­ência, a guerra à paz, a carestia à abundância e tinham sido os primeiros a incendi­ar com suas próprias mãos o Templo, que ele tinha se esforçado por conservar, mereciam ser obrigados a se alimentar de tão execrável iguaria. No entanto, ele sepultaria aquele horrível crime sob as ruínas da sua capital, a fim de que o sol, fazendo a volta ao mundo, não fosse obrigado a esconder seus raios, pelo horror, de iluminar uma cidade onde as mães se nutriam de carne dos próprios filhos, onde os pais não eram menos culpados que elas, pois tão estranhas misérias não os podiam decidir a abandonar as armas. Estas as palavras do grande príncipe, por­que, considerando até que excesso ia a raiva daqueles revoltosos, ele não achava, que depois de ter sofrido tantos males, dos quais apenas o temor deveria trazê-los ao cumprimento do dever, nada poderia jamais fazê-los mudar.


guerras judaicas livro vi - Capítulo 31

Sinais e predições da desgraça que sobreveio aos judeus, aos quais eles não deram crédito.

476. Relatarei aqui alguns desses sinais e dessas predições.

Um cometa, que tinha a forma de uma espada, apareceu sobre Jerusalém, durante um ano inteiro.

Antes de começar a guerra, o povo reunira-se, a oito de abril, para a festa da Páscoa, e pelas nove horas da noite viu-se durante uma hora e meia em redor do altar e do Templo, uma luz tão forte que se teria pensado que era dia. Os igno­rantes tiveram-na como um bom augúrio, mas os instruídos e sensatos, conhece­dores das coisas santas, consideraram-na como um presságio do que depois su­cedeu.

Durante essa mesma festa uma vaca que era levada para ser sacrificada deu à luz um cordeiro no meio do Templo.

Pelas seis horas da tarde a porta do Templo que está do lado do oriente, que é de bronze e tão pesada que vinte homens mal a podem empurrar, abriu-se sozinha, embora estivesse fechada com enormes fechaduras, barras de ferro e ferrolhos, que penetravam bem fundo no chão, feito de uma só pedra. Os guar­das do Templo avisaram imediatamente o magistrado do que acontecera e lhe foi bem difícil tornar a fechá-la. Os ignorantes interpretaram-no ainda como um bom sinal, dizendo que Deus abria em seu favor suas mãos liberais, para cobri-los de toda sorte de bens. Porém, os mais sensatos julgaram o contrário, isto é, que o Templo destruir-se-ia por si mesmo e que a abertura de sua porta era presságio, o mais favorável, que os romanos pudessem desejar.

Um pouco depois da festa, a vinte e sete de maio aconteceu uma coisa que eu temeria relatar, de medo que a tomassem por uma fábula, se pessoas que tam­bém a viram, ainda não estivessem vivas e se as desgraças que se lhe seguiram não tivessem confirmado a sua veracidade. Antes do nascer do sol viram-sé no ar, em toda aquela região, carros cheios de homens armados, atravessar as nuvens e espalharem-se pelas cidades, como para cercá-las.

No dia da festa de Pentecostes, os sacerdotes estando à noite, no Templo interior, para o divino serviço, ouviram um ruído e logo em seguida uma voz que repetiu várias vezes: Saiamos daqui!

Quatro anos antes do começo da guerra, quando Jerusalém gozava ainda de profunda paz e de fartura, Jesus, filho de Anano, que era então um simples cam­ponês, tendo vindo à festa dos Tabemáculos, que se celebra todos os anos no Templo, em honra de Deus, exclamou: "Voz do lado do oriente, voz do lado do ocidente, voz do lado dos quatro ventos, voz contra Jerusalém e contra o Tem­plo, voz contra os recém-casados e as recém-casadas, voz contra todo o povo". Dia e noite ele corria por toda a cidade, repetindo a mesma coisa. Algumas pes­soas de condição, não podendo compreender essas palavras de tão mau pressá-gio, mandaram prendê-lo e vergastá-lo; mas ele não disse uma só palavra para se defender, nem para se queixar de tão severo castigo e repetia sempre as mesmas coisas. Os magistrados, então, pensando, como era verdade, que naquilo havia algo de divino, levaram-no a Albino, governador da Judéia. Ele mandou açoitá-lo até verter sangue e nem assim conseguiram arrancar-lhe um único rogo, nem uma só lágrima, mas a cada golpe que se lhe dava, ele repetia com voz queixosa e dolorida: "desgraça sobre Jerusalém". Quando Albino lhe perguntou quem ele era, de onde era, o que o fazia falar daquela maneira, ele nada respondeu. Assim despediu-o como um louco e não o viram falar com ninguém, até que a guerra começou. Ele repetia somente e sem cessar, as mesmas palavras: "Desgraça, des­graça sobre Jerusalém", sem injuriar nem ofender aos que o maltratavam, nem agradecer aos que lhe davam de comer. Todas as suas palavras reduziam-se a tão triste presságio e as proferia com uma voz mais forte nos dias de festa. Dessa forma continuou durante sete anos e cinco meses, sem interrupção alguma, sem que sua voz se enfraquecesse ou se tornasse rouca. Quando Jerusalém foi cerca­da viu-se o efeito de suas predições. Fazendo então a volta às muralhas da cida­de, ele se pôs ainda a clamar: "Desgraça, desgraça sobre a cidade, desgraça sobre o povo, desgraça sobre o Templo". Tendo acrescentado "desgraça sobre mim", uma pedra atirada por uma máquina, derrubou-o por terra e ele expirou proferindo ainda as mesmas palavras.

Se quisermos considerar tudo o que acabo de dizer, veremos que os homens perecem somente por própria culpa, pois não há meios de que Deus não se sirva para procurar-lhes a salvação e manifestar-lhes por diversos sinais o que eles devem fazer. Assim, os judeus, depois da tomada da fortaleza Antônia, reduziram o Templo a um quadrado embora não pudessem ignorar o que está escrito nos livros sagrados, que a cidade e o Templo seriam destruídos quando aquilo viesse a acontecer. Mas o que os levou principalmente a encetar aquela infeliz guerra, foi a ambigüidade de outra passagem da mesma Escritura, que dizia que se veria naquele tempo, um homem de seu país, governar toda a terra. Eles o interpretavam em seu favor e vários até mesmo dos mais hábeis enganaram-se. Pois aquele oráculo dizia que Vespasiano, então, fora criado imperador, quando estava na Judéia. Mas eles explicavam todas essas predições, segundo sua fantasia e só conheceram seus erros, quando ficaram completamente convencidos da sua inteira ruína e destruição.


Ora o próprio Flavio Josefo havia dito que o MESSIAS profetizado nas escrituras judaicas era JESUS. Segue texto para lembrarmos:


LIVRO XVIII - Capítulo 4 : 772.  Nesse mesmo tempo, apareceu JESUS, que era um homem sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis eram as suas obras. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muito judeus, mas também por muitos gentios. Ele era o CRISTO (MESSIAS). Os mais ilustres dentre os de nossa nação acusaram-no perante Pilatos, e este ordenou que o crucificassem. Os que o haviam amado durante a sua vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas haviam predito, dizendo também que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, os quais vemos ainda hoje, tiraram o seu nome.


Porém agora aqui ele diz com todas as letras que os judeus se equivocaram com relação à profecia de Daniel capitulo 9:27 que diz:


Daniel: 26  Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas. 27  Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.


E assim Flavio Josefo termina concluindo que o tal MESSIAS que governaria o mundo era o Imperador Vespasiano. Ora deve haver alguma coisa errada, ou Josefo falou que o Messias era Jesus ou que era  Vespasiano, os dois ele com certeza não deve ter dito. De acordo com a vida que Josefo levou depois de passar para o lado romano na guerra de 66 a.C.,sendo adotado como uma espécie de filho pelo imperador Vepasiano  e mudando de nome de Yosef  Ben Matatias para Flavius Josefus, o Flavius vem da família então agora imperial a dinastia Flaviana de Flavio Vespasiano, Josefo teve uma aposentadoria vitalícia, e assim terminou a vida escrevendo história dos hebreus e das guerras judaicas romanas em 66. Ora depois de todas essas informações fica óbvio saber qual é o dito verdadeiro de Josefo, ora aquele que exalta Vespasiano como o Messias de um povo que viria e seria proclamado Imperador nas terras da Judéia. A passagem que fala de  Jesus foi mexida e sofreu acréscimos cristão para colocar na boca de um historiador que Jesus era o Messias.


guerras judaicas livro vi - Capítulo 42

Depois que os romanos ergueram aqueles cavaletes, derrubaram com os aríetes um pedaço do muro e fizeram brecha em algumas torres; Simão ejoão e os outros revoltosos são tomados de tal terror que abandonam, para fugir, as torres de Hípicos, de Fazael e de Mariana, que só seriam tomadas pela fome, e então os romanos, tornando-se senhores de tudo, fazem uma horrível matança e incendeiam a cidade.

492.  Dez dias depois que os cavaletes haviam sido iniciados, foram acaba­dos, a sete de setembro e os romanos colocaram suas máquinas sobre eles.

Então, os revoltosos perderam toda esperança de poder por mais tempo defen­der a cidade. Vários abandonaram os muros para se refugiar no monte Acra ou nos esgotos, porém os mais corajosos atacaram os que faziam os aríetes avan­çar. Os romanos não somente lhes eram superiores em número e em força, mas sua prosperidade animava-lhes a coragem, ao passo que os judeus estavam abatidos, sob o peso de tantos males. Os aríetes derribaram um bom pedaço de muro e fizeram brecha em algumas torres; os que as defendiam, fugiram; Simão e Judas foram tomados de tal horror, que imaginando o mal muito mai­or que na verdade era, só pensaram em fugir, antes mesmo que os romanos tivessem chegado até aquele muro. O horrível orgulho daqueles ímpios con­verteu-se de repente em tal espanto que por mais malvados que eles fossem, não se poderia deixar de sentir compaixão de tão estranha mudança. Queriam, para se salvar, atacar os que defendiam o muro feito pelos romanos em redor da cidade, mas vendo-se abandonados por aqueles mesmos que antes lhes eram os mais fiéis, cada qual fugiu, como pôde; e como o medo perturba o juízo e faz que se vejam coisas que não existem, uns vinham dizer-lhes que todo o muro do lado do ocidente tinha sido derribado, outros, que os romanos já haviam entrado, outros, que eles se tinham apoderado das torres. Tantos boatos falsos aumentaram de tal modo o seu terror, que, atirando-se de rosto por terra, eles recriminavam sua loucura e, como se tivessem sido feridos por um raio, ficavam imóveis, sem saber que deliberação tomar.

493. Viu-se então claramente um efeito do poder de Deus e a boa sorte dos romanos; pois a perturbação em que se encontravam aqueles tiranos, fez que se privassem por si mesmos da maior vantagem que lhes restava, abandonando as torres, onde nada tinham a temer, senão a fome. Assim, os romanos que tanto tinham se esforçado para derribar os muros mais fracos foram tão felizes, que se tornaram senhores, sem dificuldade, das três admiráveis torres de Hípicos, de Fazael e de Mariana, de que falamos há pouco e cuja resistência era tão extraor­dinária, que teriam atacado inutilmente, com todas as suas máquinas. Depois que Simão e João as abandonaram, ou melhor, que Deus os expulsou de lá, eles fugiram para o vale de Siloé, onde depois de ter retomado ânimo e se terem recuperado um tanto de seu terror, atacaram o novo muro, não, porém, com tanta força para dele se apoderar, porque o cansaço, o medo e tantos males que suportaram, tinham diminuído muito suas energias. Assim foram rechaçados e retiraram-se uns para um lado, uns para outro.

Os romanos vendo-se então senhores dessas torres, hastearam suas bandei­ras, bem no alto delas, com grandes gritos de alegria, porque os últimos esforços que haviam feito naquela guerra, os faziam desfrutar com mais prazer a felici­dade de a ter gloriosamente terminado. Mas tendo assim conquistado sem resis­tência este último muro, eles não podiam imaginar que não restasse ainda outro para vencer, e custavam crer no que viam com seus próprios olhos.

494.  Os soldados, espalhados por toda a cidade, matavam sem distinção os que encontravam e incendiavam todas as casas com as pessoas que lá estavam escondidas. Os que nelas entravam, para saqueá-las, encontravam-nas cheias de cadáveres de toda a família, que a fome havia feito perecer; o horror de tal espetáculo os fazia sair de mãos vazias. Mas embora sentissem alguma compai­xão pelos mortos, não eram mais humanos com os vivos, pois matavam a todos os que encontravam; o número dos corpos amontoados uns sobre os outros era tão grande que entupia as ruas e o sangue em que nadavam apagava o fogo em vários lugares. A matança terminava à noite, o incêndio, porém, aumentava.

495.  Foi a oito de setembro que Jerusalém, depois de ter sofrido tantos males, por fim, desapareceu sob o violento incêndio. Durante o assédio, mil sofrimentos a atormentaram, fazendo que sua felicidade e seu esplendor, que desde a funda­ção haviam sido enormes, se eclipsassem, depois de a terem tornado digna de inveja. Mas em tal conjuntura, depois de tantos males, essa infeliz cidade não é digna de lástima, a não ser por ter agasalhado em seu seio aquela multidão de víboras, que a devoraram e foram a causa de sua ruína.

guerras judaicas livro vi - Capítulo 43

Tito entra em Jerusalém e admira, entre outras coisas, as fortificações, mas particularmente as torres de Hípicos, de Fazael e de Mariana, que ele conserva, mandando destruir tudo o mais.

496. Tito entrou na cidade e admirou, entre outras coisas, as fortificações, con­templando com assombro a potência e a força das torres, bem como sua beleza. Os tiranos, por fim, foram bastante imprudentes em abandoná-las. Depois de ter observado atentamente sua altura, largura, a grandeza extraordinária das pedras e a arte com que tinham sido unidas, umas às outras, exclamou: "Bem parecia que Deus combatia por nós; ele expulsou os judeus destas torres, pois não há forças humanas, nem máquinas capazes de expugná-las". Disse várias coisas aos amigos a esse respeito e pôs em liberdade todos os que os tiranos lá tinham deixado presos. Mandou depois destruir tudo o mais e conservou somente essas soberbas torres, para servirem de monumento à posteridade, recordando a felicidade, sem a qual, ter-lhe-ia sido impossível apoderarem-se das mesmas.

 guerras judaicas livro vi - Capítulo 44

O que os romanos fizeram dos prisioneiros.

497.  Como os romanos estavam cansados de matar e havia ainda uma grande multidão de gente, Tito ordenou que os poupassem e não os passassem a fio de espada a não ser os que ameaçassem defender-se. Mas os soldados não deixaram de matar, contra sua ordem, os velhos e os mais fracos. Conservaram somente os que eram fortes e vigorosos, capazes de servir e os encerraram no Templo destinado às mulheres. Tito confiou-os a um de seus libertos de nome Fronto, no qual ele deposita­va grande confiança, com o poder de agir conforme melhor lhe parecesse. Fronto mandou matar os ladrões e os revoltosos que se acusavam mutuamente e reservou para o triunfo os mais jovens e os mais formosos. Mandou com cadeias para o Egito os que tinham mais de dezessete anos, para trabalhar nas obras públicas e Tito distribuiu um grande número deles pelas províncias para servirem de espetáculo de gladiadores e combater contra as feras. Os que tinham menos de dezessete anos foram vendidos.

Dessa forma, enquanto estes míseros eram encaminhados como escravos, onze mil outros morreram, uns, porque seus guardas que os odiavam não lhes deram de comer, outros, porque não o queriam fazer, desgostosos como esta­vam da vida, preferiam mesmo morrer e também porque dificilmente se encon­trava trigo para alimentar tanta gente.


livro vi - Capítulo 45

Número de judeus prisioneiros durante essa guerra e dos que morreram durante o cerco de Jerusalém.

498. Foram feitos prisioneiros durante esta guerra noventa e sete mil homens e o assédio de Jerusalém custou a vida a um milhão e cem mil homens, dos quais a maior parte, embora judeus de nascimento, não eram nascidos na judéia, mas lá se encontravam de todas as províncias para festejar a Páscoa e haviam ficado presos na cidade por causa da guerra. Como não havia lugar para acomodá-los a todos, sobre­veio a peste e logo em seguida a carestia. Pode-se julgar que era difícil que aquela cidade, sendo tão grande, estivesse de tal modo povoada, que não havia lugar para tanta gente, principalmente esses judeus vindos de fora, mas não há melhor prova para isso, do que o recenseamento feito no tempo de Céstio. Pois esse governador, querendo dar a conhecer a Nero, que tinha tanto desprezo pelos judeus, a força de Jerusalém, rogou aos sacerdotes que contassem o povo. Eles escolheram para isso o tempo da festa da Páscoa no qual desde as nove horas até às onze, sem cessar, imola­ram-se vítimas, cuja carne era consumida pelas famílias, que não tinham menos de dez pessoas, algumas até vinte. Concluiu-se que haviam sido imolados duzentos e cinqüenta e cinco mil e seiscentos animais, de onde, contando-se apenas dez pessoas para cada animal, teríamos dois milhões, quinhentos e cinqüenta e seis mil pessoas, purificadas e santificadas. Não eram admitidos a oferecer sacrifícios nem os leprosos, nem os que sofriam de gonorréia, nem as mulheres que estavam no tempo do incômodo que lhes é ordinário, nem os estrangeiros que, não sendo judeus de raça, não deixavam de sê-lo, por devoção a essa solenidade. Assim, aquela grande multidão que se tinha dirigido a Jerusalém, de tantos e tão diversos lugares, antes do cerco, lá se encontrou encerrada como numa prisão, quando a guerra começou.

guerras judaicas Livro Sétimo - Capítulo 1

Tito manda destruir Jerusalém até os alicerces, com exceção de um trecho do muro no lugar onde ele queria construir uma fortaleza, e as torres de Hípicos, de Fazael e de Mariana.

501. Depois que o exército romano, que jamais se cansaria de matar e de saquear, nada mais achou em que saciar o seu furor, Tito ordenou que a destruíssem, até os alicerces, com exceção de um pedaço do muro, que está do lado do ocidente, onde ele tinha determinado construir uma fortaleza e as torres de Hípicos, de Fazael e de Mariana, porque, sobrepujando a todas as outras em altura e em magnificência, ele as queria conservar para mostrar à posteridade, quão grandes foram o valor e a ciência dos romanos na guerra, para se apoderarem daquela poderosa cidade, que se tinha elevado a tal nível de glória. Essa ordem foi tão exatamente cumprida que não ficou sinal al­gum, que mostrasse haver ali existido um centro tão populoso. Tal o fim de Jerusalém, cuja triste sorte só se pode atribuir à raiva daqueles revoltosos que atearam o fogo na guerra.


EUSEBIO DE CESAREIA

LIVRO II - XXIII

[De como Tiago, chamado irmão do Senhor, sofreu o martírio]

1.   Ao apelar Paulo ao César e ser enviado por Festo à cidade de Roma[1], os judeus, frustrada a esperança que os induziu a conspirar contra ele[2], voltaram-se contra Tiago, o irmão do Senhor, a quem os apóstolos tinham confiado o trono episcopal de Jerusalém. O que segue é o que ousaram fazer também contra ele.

2.   Trouxeram-no, e diante de todo o povo pediram-lhe que renegasse a fé de Cristo. Mas quando ele, contra a vontade de todos, com voz livre e falando mais abertamente do que esperavam, diante de toda a multidão pôs-se a confessar que nosso Salvador e Senhor Jesus era filho de Deus, já não foram capazes de suportar mais o testemunho deste homem, justamente porque era considerado o mais justo de todos pelo grau de sabedoria e piedade a que havia chegado em sua vida, e mataram-no, aproveitando oportunamente a falta de governo, pois tendo Festo morrido na Judéia neste tempo, a administração do país ficou sem chefe e sem controle[3].

3.   O modo como ocorreu a morte de Tiago já foi esclarecido pelas palavras citadas de Clemente[4], que conta como o lançaram do pináculo do templo e espancaram-no até matá-lo. Mas quem conta com maior exatidão o que a ele se refere é Hegesipo, que pertence à primeira geração sucessora dos apóstolos[5] e que no livro V de suas Memórias diz assim:

4.          "Sucessor[6] na direção da Igreja é, junto com os apóstolos, Tiago, o irmão do Senhor. Todos dão-lhe o sobrenome de "Justo", desde os tempos do Senhor até os nossos, pois eram muitos os que se chamavam Tiago.

5.          Mas somente este foi santo desde o ventre de sua mãe. Não bebeu vinho nem bebida fermentada, não comeu carne; sobre sua cabeça não passou tesoura nem navalha e tampouco ungiu-se com azeite nem usou do banho.

6.          Somente a ele era permitido entrar no santuário, pois não vestia lã, mas linho. E somente ele penetrava no templo, e ali se encontrava ajoelhado e pedindo perdão por seu povo, tanto que seus joelhos ficaram calejados como os de um camelo, por estar sempre de joelhos adorando a Deus e pedindo perdão para o povo.

7.          Por sua eminente retidão era chamado "o Justo" e "Oblías", que em grego quer dizer proteção do povo e justiça, como declaram os profetas acer­ca dele.

8.          Assim pois, alguns das sete seitas que há no povo e que eu descrevi anteriormente (nas Memórias) tentavam informar-se com ele quem era porta de Jesus, e ele respondia que este era o Salvador.

9.          Alguns creram que Jesus era o Cristo. Mas as seitas mencionadas anteriormente não creram nem na ressurreição nem em que venha a dar a cada um segundo suas obras[7]. Mas os que creram, creram por Tiago.

10.Sendo pois, muitos os que creram, inclusive entre as autoridades[8], os judeus, escribas e fariseus se alvoroçaram dizendo: todo o povo corre perigo ao esperar o Cristo em Jesus. Reuniram-se pois ante Tiago e disseram: Nós te pedimos: retém ao povo, que está em erro a respeito de Jesus, como se ele fosse o Cristo. Pedimo-te que convenças a respeito de Jesus todos os que vierem para o dia da Páscoa, porque a ti todos obedecem. Efetivamente, nós e todo o povo damos testemunho de ti, de que és justo e não te deixas levar pelas pessoas.

11.    Tu pois, convence a toda a multidão para que não se engane a respeito do Cristo. Todo o povo e nós mesmos te obedecemos. Ergue-te pois sobre o pináculo do templo para que do alto sejas visível e todo o povo ouça tuas palavras, pois por causa da Páscoa reúnem-se todas as tribos, inclusive com os gentios.

12.E assim os mencionados escribas e fariseus puseram Tiago em pé sobre o pináculo do templo e disseram-lhe aos gritos: "O tu, o justo!, a quem todos devemos obedecer, posto que o povo anda extraviado atrás de Jesus o crucificado, diga-nos quem é a porta de Jesus."

13.E ele respondeu com grande voz: "Por que me perguntam sobre o Filho do homem? Ele também está sentado no céu à direita do grande poder e há de vir sobre as nuvens do céu[9]."

14.E sendo muitos os que se convenceram completamente e ante o testemunho de Tiago, irromperam em louvores dizendo: "Hosana ao filho de Davi!". Então os mesmos escribas e fariseus novamente disseram uns aos outros: "Fizemos mal em proporcionar tal testemunho a Jesus, mas subamos e lancemo-lo para baixo, para que tenham medo e não creiam nele."

15.E puseram-se a gritar dizendo: "Oh! Oh! Também o Justo extraviou-se!" E assim cumpriram a Escritura que se encontra em Isaías: Tiremos de nosso meio o justo, que nos é incômodo. Então comerão o fruto de suas obras.

16.Subiram pois e lançaram abaixo o Justo. E diziam uns aos outros: "Apedrejemos a Tiago o Justo!" E começaram a apedrejá-lo, porque ao cair não chegou a morrer. Mas ele, virando-se, ajoelhou-se e disse: "Eu te peço Senhor, Deus Pai: Perdoa-os, porque não sabem o que fazem.

17.E quando estavam assim apedrejando-o, um sacerdote, um dos filhos de Recab, filho dos Recabim, dos quais o profeta Jeremias havia dado testemunho[10], gritava dizendo:

Parai, que estais fazendo? O Justo roga por vós!

18.     E um deles, tecelão, agarrou o bastão com que batia os panos e deu com este na cabeça do Justo, e assim foi que sofreu o martírio. Enterra­ram-no naquele lugar, junto ao templo, e ainda se conserva sua coluna naquele lugar ao lado do templo. Tiago era já um testemunho veraz para judeus e para gregos de que Jesus é o Cristo. E em seguida Vespasiano os sitiou[11]."

19.     Isto é o que Hegesipo relata minuciosamente, concordando ao menos com Clemente. Tiago era um homem tão admirável e tanto havia-se espalhado entre todos a fama de sua retidão, que até os judeus sensatos pensavam que esta era a causa do assédio de Jerusalém, iniciado imediatamente depois de seu martírio, e que por nenhum outro motivo estavam eles sofrendo-o senão pelo crime sacrílego cometido contra ele.

20.    Na verdade, pelo menos Josefo não vacilou em atestar também isto por escrito com estas palavras:

"Isto sucedeu aos judeus como vingança por Tiago o Justo, irmão de Jesus, o chamado Cristo, porque exatamente os judeus o mataram, ainda que fosse um homem justíssimo[12]."

21.    O mesmo autor descreve também a morte de Tiago no livro XX de suas Antigüidades com estas palavras:

"Sabendo César da morte de Festo, enviou a Albino como governador da Judéia. Mas Ananos o Jovem, sobre quem já dissemos que havia recebido o sumo sacerdócio, tinha um caráter especialmente resoluto e atrevido e formava parte da seita dos Saduceus, que nos juízos eram justamente os mais cruéis entre os judeus, como já demonstramos.

22.Ananos sendo pois assim, considerando oportuna a ocasião por haver morrido Festo e achar-se Albinus ainda a caminho, convocou a assembléia de juízes, e fazendo conduzir perante ela o irmão de Jesus, chamado Cristo - chamava-se Tiago - e alguns mais para acusá-los de violar a lei, entregou-os para que fossem apedrejados.

23.Mas todos os cidadãos considerados os mais sensatos e mais fiéis observadores da lei levaram a mal esta sentença e enviaram uma delegação secreta ao rei[13] para pedir-lhe que escrevesse a Ananos para que não levasse a cabo tal coisa, porque já desde o começo não agia com retidão. Alguns deles inclusive saíram ao encontro de Albinus, que viajava desde Alexan­dria, para informá-lo de que sem seu parecer não era permitido a Ananos convocar a assembléia.

24.    Persuadido Albinus com o que lhe disseram, escreveu irritado a Ananos, ameaçando-o de pedir-lhe contas. E o rei Agripa destituiu-o por este motivo do sumo sacerdócio, que exercia há três meses, e instituiu a Jesus, o filho de Dameo."

Esta é a história de Tiago, do qual se diz que é a primeira carta das chamadas católicas.

25.    Mas deve-se saber que não é considerada autêntica. Dos antigos não são muitos os que a mencionam, assim como a chamada de Judas, que é tam­bém uma das sete chamadas católicas. Ainda assim, sabemos que também estas, junto com as restantes, são utilizadas publicamente na maioria das igrejas.


ATÉ O SÉCULO V AS CARTAS DE TIAGO, JUDAS E O APOCALIPSE PRATICAMENTE FORAM BANIDAS DO CANONE DA BÍBLIA.

LIVRO III – CAPITULO V

[Sobre o último assédio dos judeus depois de Cristo]

1.         Depois de Nero ter exercido o poder durante treze anos, e tendo os reinados de Galba e Oto durado um ano e seis meses, Vespasiano, que havia se distinguido nas operações bélicas contra os judeus, foi nomeado imperador na própria Judéia, após ser proclamado senhor absoluto pelo exército ali acampado. Encaminhando-se então a Roma, pôs em mãos de seu filho Tito a guerra contra os judeus.

2.         Depois da ascensão de nosso Salvador, os judeus acrescentaram ao crime cometido contra ele a invenção de inúmeras ameaças contra seus apóstolos: Estevão foi o primeiro que eliminaram, apedrejando-o[14]; depois dele, Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, a quem decapitaram[15]; e depois de todos, Tiago, o que depois da ascensão de nosso Salvador foi o primeiro designado para o trono episcopal de Jerusalém e morreu da forma que já descrevemos. E os demais apóstolos sofreram milhares de ameaças de morte e foram expulsos da terra da Judéia. Porém, com o poder de Cristo, que havia-lhes dito: Ide e fazei discípulos de todas as nações em meu nome [16], dirigiram seus passos para todas as nações para ensinar a mensagem.

3.         E não apenas eles. Também o povo da igreja de Jerusalém, por seguir um oráculo enviado por revelação aos notáveis do lugar, receberam a ordem de mudar de cidade antes da guerra e habitar certa cidade da Peréia chamada Pella. Tendo os que creram em Cristo emigrado até lá desde Jerusalém, a partir deste momento, como se todos os homens santos tivessem abandonado por completo a própria metrópole real dos judeus e toda a região da Judéia, a justiça divina alcançou os judeus pelas iniqüidades que cometeram contra Cristo e seus apóstolos, e apagou dentre os homens toda aquela geração de ímpios.

4.  Quem pois quiser saber com exatidão os males que então caíram sobre a nação em todo lugar, e como especialmente os habitantes da Judéia viram-se empurrados ao fundo das calamidades, quantos milhares de jovens, de mulheres e de crianças morreram pela espada, pela fome, e inúmeras outras formas de morte, e quantas e quais cidades da Judéia foram sitiadas, e também quantos horrores e pior do que horrores atingiram os que se refugiaram na mesma Jerusalém, por ser um metrópole muito fortificada, assim como a índole de toda a guerra, os acontecimentos que nela se sucederam e como, finalmente, a abominação da desolação anunciada pelos profetas se instalou no próprio templo de Deus, tão célebre antigamente, que sofreu todo tipo de destruição e, por último, foi aniquilado pelo fogo: tudo isso encontrará na narrativa escrita por Josefo.

5.         Mas é necessário assinalar que este mesmo autor refere que o número dos que se concentraram nos dias da festa da Páscoa, vindos de toda a Judéia para Jerusalém, como num cárcere, para usar suas palavras, era de uns três milhões.

6.         Era necessário pois, que nos dias em que causaram a paixão do Salvador e benfeitor de todos e Cristo de Deus, nestes mesmos, encerrados como num cárcere, recebessem a ruína que os alcançava da justiça de Deus.

7.    Mas passando por alto o que lhes sobreveio e o que lhes foi feito pela espada e de outras maneiras, acho necessário apresentar apenas as cala­midades causadas pela fome, para que os que leiam este escrito possam saber em parte como não tardou muito para que os alcançasse o castigo divino por seu crime contra o Cristo de Deus.


CAPITULO VI

[Sobre a fome que oprimiu os judeus]

1.  Assim pois, se tomas outra vez em tuas mãos o livro V das Histórias de Josefo, leia a tragédia que lhes aconteceu então:

"Para os ricos - diz - ficar era o mesmo que perder-se, pois, sob pretexto de que deserdavam, assassinavam qualquer um pelos seus bens. Com a fome crescia o desespero dos rebeldes, e dia a dia uma e outro se acendiam terrivelmente.

2.    O trigo estava invisível, mas eles invadiam as casas e as revistavam. Então, se o encontravam, maltratavam-nos por ter negado; se não o encontravam, torturavam-nos por tê-lo escondido tão cuidadosamente. A prova de ter ou não ter eram os corpos dos desgraçados: os que ainda se agüentavam em pé pareciam ter alimentos em abundância; os que já estavam consumidos eram deixados em paz: parecia fora de propósito matar alguém que logo morreria de inanição.

3.         Muitos davam secretamente seus bens em troca de uma medida de trigo se eram ricos; de cevada os mais pobres. Trancavam-se no mais oculto de suas casas e, impelidos pela necessidade, uns comiam o trigo cru; outros o coziam à medida que a necessidade e o medo ditavam.

4.    Não se punha a mesa, antes, tiravam do fogo a comida ainda crua e a devoravam. O alimento era miserável e o espetáculo deplorável: os mais fortes tomando tudo e os fracos lamentando-se.

5.   A fome excede todos os sofrimentos, mas nada ela destrói mais do que o senso de dignidade, pois o que em outro tempo seria tido como digno de respeito é depreciado em tempo de fome. Assim, as mulheres tiravam os alimentos da própria boca dos maridos, os filhos da de seus pais e, o que é demasiado lamentável, as mães das bocas de seus filhos, e enquanto os seres mais queridos se consumiam entre suas mãos, nada os refreava de tirar-lhes as últimas gotas que os permitiam viver.

6.          Mas, mesmo sendo esta sua comida, não permanecia oculta. Por toda parte caíam-lhes em cima os rebeldes em busca dessa presa. Quando viam uma casa fechada, era sinal de que os ocupantes tinham conseguido comida, e imediatamente arrombavam as portas e se precipitavam para dentro, e só lhes faltava apertar as gargantas e arrancar-lhes o bocado.

7.    Golpeavam os anciãos que não soltavam seus alimentos e arrancavam o cabelo das mulheres que escondiam o que tinham nas mãos. Não havia compaixão nem pelos velhos nem pelas crianças, mas levantavam as crianças que seguravam seu bocado e as deixavam cair contra o solo. Com aqueles que, adiantando-se a seu ataque, engoliam antes o que ten­tariam tirar-lhes, eram ainda mais cruéis, como se tivessem sofrido uma injustiça.

8.    Usavam espantosos métodos de tortura para descobrir comida: obstruíam a uretra dos desgraçados com grãos de legumes e trespassavam-lhes o reto com varas pontiagudas. Padeciam-se tormentos que espantam apenas por ouvi-los, até confessar a posse de um único pedaço de pão e descobrir um só punhado de farinha escondida.

9.    Mas os torturadores não passavam fome alguma - sua crueldade seria menor se atendesse a uma necessidade -, mas exercitavam seu louco orgulho e iam ajuntando provisões para os dias vindouros.

10. Seguiam os que à noite se arrastavam até os postos romanos para reco­lher legumes silvestres e ervas. Quando estes pensavam que já haviam esca­pado dos inimigos, aqueles tiravam-lhes o que levavam, e muitas vezes, se os infelizes suplicavam invocando pelo terrível nome de Deus que lhes deixassem uma parte do que com tanto perigo tinham trazido, não lhes deixavam nem isto, e ainda podiam dar-se por satisfeitos se, além de serem despojados, não eram assassinados."

11.    A isto, depois de outras coisas, acrescenta:

"Com o êxodo cortou-se para os judeus também toda esperança de salvação, e a fome, abatendo-se sobre cada casa e cada família, ia devorando o povo. Os terrenos enchiam-se de mulheres e de crianças de peito mortos, e as vielas de cadáveres de anciãos.

12.    Rapazes e jovens, inchados, vagavam pelas praças como espectros e caíam mortos onde a dor os colhesse. Os doentes não tinham forças para enterrar seus parentes, e os que teriam podido negavam-se, por serem tantos os mortos e pela incerteza de seu próprio destino. De fato, muitos caíam mortos junto aos que tinham acabado de enterrar, e muitos iam a sua tumba antes que a
necessidade o impusesse.

13.Não havia lamentos nem choro por estas calamidades: a fome afogava os sentimentos, e os que lentamente morriam contemplavam com olhos secos os que morriam antes deles. Um silêncio profundo e uma noite carregada de morte envolviam a cidade. E pior do que tudo isto eram os ladrões.

14.Penetravam nas casas como ladrões de tumbas, despojavam os cadáveres e, depois de arrancar os panos que cobriam os corpos, iam embora entre risa­das. Testavam o fio de suas espadas nos cadáveres e, provando o ferro, atravessavam alguns, que já caídos, ainda viviam. Mas se alguém lhes pedia que utilizassem nele sua força e sua espada, desdenhavam-no e abandona­vam-no à fome. E todo o que expirava olhava fixamente para o templo, porque deixava vivos atrás de si os rebeldes.

15.Estes, no começo, por não suportar o fedor, mandavam enterrar os mortos às custas do tesouro público, mas logo, quando não davam mais conta, atiravam-nos sobre as muralhas aos barrancos. Quando Tito fez a ronda por aqueles barrancos e viu que estavam repletos de cadáveres e o espesso líquido escuro que manava por debaixo dos cadáveres em putrefação, pôs-se a gemer e levantando as mãos tomava a Deus por testemunha de que aquilo não era obra sua."

16.Depois de acrescentar mais algumas coisas, continua dizendo:

"Eu não poderia deixar de expressar o que o sentimento me ordena: creio que, se os romanos tivessem demorado em sua ação contra os culpados, o abismo teria engolido a cidade, ou as águas a teriam submergido, ou teria sido alcançada pelos raios de Sodoma, pois a geração que continha era muito mais ímpia do que as que sofreram estes castigos. E pela demência criminosa destas pessoas, o povo inteiro pereceu com elas."

17.    E no livro VII escreve o seguinte:

"Foi infinito o número dos que pereceram na cidade por fome, e os padecimentos eram indizíveis. Em cada casa havia guerra como se aparecesse em um canto uma sombra de comida, e os que mais se queriam entre si pega­vam-se aos tapas para tirar o miserável sustento da vida. Nem sequer nos moribundos confiava a necessidade.

18.Os ladrões revistavam inclusive os que estavam expirando, para que alguém não escondesse alimentos sob a roupa e fingisse estar morto. Outros, com a boca aberta por efeito da desnutrição, andavam cambaleando e desanca­dos como cães raivosos e empurravam as portas como fazem os bêbados e, em sua impotência, entravam nas mesmas casas duas ou três vezes em uma só hora.

19.A necessidade fazia com que levassem tudo à boca, e quando recolhiam alimentos até indignos dos animais irracionais mais repugnantes, levavam-no para comer escondido, a assim acabaram por não abster-se nem dos cintos e dos calçados, tiravam as peles de seus escudos e as mastigavam. Para alguns até fiapos de ervas velhas eram alimento, outros recolhiam fibras de plantas e vendiam uma porção mínima por quatro dracmas áticos.

20.E o que haveria para dizer sobre a impudência das pessoas presas do desâ­nimo? Porque vou mostrar uma obra sua que não está narrada nem entre os gregos nem entre os bárbaros, espantosa de dizer, incrível de escutar. Eu pelo menos, para não dar a impressão de que estou inventando para a posteri­dade, de bom grado omitiria esta calamidade se não tivesse uma infinidade de testemunhos contemporâneos meus. Além disso prestaria pouco serviço a minha pátria se renunciasse a relatar os males que de fato padeceram.

21.Uma mulher das que habitavam na outra margem do Jordão, chamada Maria, filha de Eleazar, da aldeia de Batezor - nome que significa "casa de hissôpo" - notável por suas riquezas e sua linhagem, fugiu para Jerusalém com o resto da multidão e com esta compartilhava o assédio.

22.Os tiranos tiraram-lhe todos os bens que havia reunido e levado consigo à cidade desde Peréia. O resto de seu enxoval e o pouco alimento que encon­traram foi sendo roubado por pessoas armadas que entravam a cada dia. Foi grande a indignação daquela pobre mulher, que muitas vezes injuriava e maldizia os ladrões para excitá-los contra si mesma.

23.Mas como ninguém a matava, movidos pela ira ou pela compaixão, e cansada de buscar alimentos para outros, que já eram impossíveis de encontrar em parte alguma, com as entranhas e a medula trespassadas pela fome, tomou como conselheiras a cólera e a necessidade e se lançou contra a natureza, agarrou o filho que tinha - criança ainda de peito - e disse:

24.Criatura desgraçada! Em meio à guerra, à fome e à revolta, para quem vou guardar-te? Entre os romanos, se por acaso cairmos vivos em suas mãos, a escravidão; mas a fome se antecipa à própria escravidão e os rebeldes são ainda piores do que ambas as coisas. Eia! Seja alimento para mim, maldição para os rebeldes e fábula para o mundo: a única coisa que faltava às calamidades dos judeus!

25.E enquanto dizia estas coisas, deu morte a seu filho. Depois assou-o e comeu a metade; o resto guardou escondido. Em seguida apareceram os rebeldes, e farejando a ímpia exalação, ameaçaram a mulher de degolá-la imedia­tamente se não lhes mostrasse o que tinha preparado. Ela então lhes disse que para eles guardara uma boa porção e revelou o que restava de seu filho.

26.O horror e o pasmo surpreendeu-os na hora e ficaram cravados no lugar diante daquele espetáculo. Mas ela disse: é meu próprio filho e eu o fiz. Comei, pois também eu comi. Não sejais mais brandos do que uma mulher nem mais compassivos do que uma mãe. Mas se por escrúpulos piedosos recusais meu sacrifício, eu já comi por vós, fique o resto também para mim.

27.Depois disto, aqueles foram-se tremendo: foi a única vez em que se acovar­daram e que, de malgrado, cederam à mãe tal comida. Em seguida a cidade inteira encheu-se de horror, e todo o mundo estremeceu ao ser-lhe apre­sentado frente aos olhos aquele crime como sendo seu próprio. 28. E entre os esfomeados havia pressa para morrer e uma certa inveja pelos que haviam se adiantado morrendo antes de ouvir e contemplar semelhantes horrores."

Esta foi a recompensa dos judeus por sua iniqüidade e impiedade para com o Cristo de Deus.

 CAPITULO VII

[Sobre as profecias de Cristo]

1.         É justo acrescentar a pregação infalível de nosso Salvador pela qual mostrava estas mesmas coisas quando profetizava assim: das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado; porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, nem haverá jamais[17].

2.         Somando o número total de mortos, o escritor diz que pela fome e pela espada pereceram um milhão e cem mil pessoas; que os rebeldes e bandidos que ainda sobraram foram se denunciando uns aos outros depois da tomada da cidade e foram executados; que os jovens mais esbeltos e que sobressaíam por sua beleza física foram reservados para a cerimônia do "triunfo", e do resto da população, os que passavam de dezessete anos, uns eram enviados acorrentados aos trabalhos forçados no Egito, e outros, mais numerosos, foram distribuídos pelas províncias para fazê-los perecer nos teatros pela espada ou pelas feras; e os que ainda não tinham chegado aos dezessete anos eram conduzidos cativos para serem vendidos. Somente destes o número dava um total de uns noventa mil[18].

3.         Estes acontecimentos ocorreram deste modo no segundo ano do império de Vespasiano[19], segundo as predições de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que, por seu divino poder, havia visto de antemão estas mesmas coisas como se já estivessem presentes e havia chorado e soluçado, segundo a Escritura dos sagrados evangelistas, que inclusive acrescentam suas próprias palavras: umas, as que disse dirigindo-se à mesma Jerusalém:

4.  Se tu conheceras ao menos neste dia o que diz respeito a tua paz! Mas agora está oculto aos teus olhos. Porque virão dias sobre ti, e teus inimigos te rodearão de paliçadas, te cercarão e por todos os lados te apertarão. E te assolarão a ti e a teus filhos[20].

5.          E outras como referindo-se ao povo: Porque haverá grande necessidade sobre a terra e ira contra este povo. E cairão ao fio da espada e serão levados cativos a todas as nações. E Jerusalém será pisoteada pelos gentios, até que sejam cumpridos os tempos destes povos[21]. E outra vez: E quando virdes Jerusalém cercada por exércitos, sabei então que terá chegado sua desolação[22].

6.    Se alguém comparar as palavras de nosso Salvador com os demais relatos do escritor acerca da guerra inteira, como não ficar admirado e confessar como verdadeiramente divinas e sobrenaturalmente prodigiosas a presciência e a predição de nosso Salvador?

7.    Portanto, sobre o acontecido à nação inteira depois da paixão do Salvador e dos gritos com os quais a plebe judia pediu para livrar da morte o ladrão e assassino e suplicou que tirassem de seu meio o autor da vida, não haverá necessidade de acrescentar nada à narrativa.

8.    Contudo, seria justo acrescentar o que poderia ser significativo sobre o amor da divina providência aos homens, pois retardou a destruição dos culpados durante quarenta anos completos depois de seu crime contra Cristo. Durante estes anos, numerosos apóstolos e discípulos, e o próprio Tiago, primeiro bispo dali e chamado irmão do Senhor, que ainda viviam e moravam na mesma cidade de Jerusalém, mantinham-se fiéis ao lugar como fortíssima muralha.

9.    A providência divina até aquele momento mostrava sua grande paciência, para o caso de que se arrependessem de seu feito e alcançassem assim o perdão e a salvação; e como se tal longanimidade fosse pouco, deixava ver sinais divinos extraordinários do que lhes sucederia se não se arrependessem. Também estes sinais foram considerados notáveis pelo autor citado. Nada melhor do que oferecê-los aos que lêem esta obra.

 CAPITULO VIII

[Dos sinais que precederam a guerra]

1. Toma pois, e lê o que apresenta no livro VI de suas Histórias com estas palavras:

"Naquele tempo os impostores e os que levantavam tais calúnias contra Deus pervertiam o povo miserável, de forma que nem percebiam nem davam crédito a tais prodígios bem claros que anunciavam de antemão a iminente desolação; antes, como se aturdidos por um raio e como se não tivessem olhos nem alma, faziam ouvidos surdos às mensagens de Deus.

2.          Estas foram: um astro que se deteve sobre a cidade, semelhante a uma espada de dois gumes, e um cometa que durou todo um ano. Outra vez foi quando, antes da insurreição e dos distúrbios que levaram à guerra, estando o povo reunido para celebrar a festa dos ázimos, no oitavo dia do mês de Jantico, à nona hora da noite, brilhou sobre o altar e o templo uma luz tão grande que poder-se-ia pensar que era dia, e isto durou uma meia hora. Aos ignorantes poderia parecer um bom sinal, mas os escribas interpretaram-no corretamente antes que os fatos ocorressem.

3.    E na mesma festa, uma vaca que o sumo sacerdote conduzia ao sacrifício pariu um cordeiro no meio do templo.

4.    E a porta oriental do interior, que era de bronze e muito pesada, e que havia sido fechada ao anoitecer com dificuldade por vinte homens que a trancaram solidamente com ferrolhos presos com ferro, além de ter gonzos profundos, abriu-se sozinha à sexta hora da noite.

5.          E passada a festa, não muito depois, no vigésimo primeiro dia de Artemisio, apareceu um fantasma demoníaco de tamanho incrível. E o que se passará a dizer poderia parecer mentira se não tivesse sido contado pelos mesmos que o viram e se os sofrimentos que se seguiram não fossem dignos destes sinais. De fato, antes do pôr-do-sol, apareceram pelo ar em redor de toda a região carros e falanges armadas que se lançavam através das nuvens e rodeavam as cidades.

6.    E na festa chamada Pentecostes, à noite, entrando os sacerdotes no templo, como de costume, para exercer suas funções, dizem que primeiramente perceberam movimento e ruído de golpes, e logo um grito em uníssono: Saiamos daqui!

7.          E o que é mais terrível: um homem chamado Jesus, filho de Ananías, homem simples, camponês, quatro anos antes da guerra, quando a cidade desfru­tava da maior paz e do máximo esplendor, veio à festa, pois era costume que todos erigissem tendas em honra a Deus[23], e de repente começou a gritar pelo templo: Voz do oriente! Voz do ocidente! Voz dos quatro ven­tos! Voz sobre Jerusalém e sobre o templo! Voz dos recém-casados e casadas! Voz sobre todo o povo! Dia e noite gritava isto por todas as vielas.

8.    Mas alguns cidadãos notáveis, irritados pelo mau agouro, prenderam o homem e maltrataram-no, enchendo-o de feridas. Mas ele, que não falava em proveito próprio nem por conta própria, continuava gritando aos presen­tes o mesmo que antes.

9.    Pensando então os chefes que a agitação daquele homem era algo demoníaco, conduziram-no ante o procurador romano[24]. Ali, dilacerado com açoites até os ossos, não suplicou nem derramou uma lágrima, mas, tornando sua voz tão chorosa quanto possível, a cada ferida respondia: Ai, ai de Jerusalém!"

10.Comenta o mesmo Josefo outro fato mais extraordinário. Diz que nas escrituras sagradas encontrou-se um oráculo com este conteúdo: que naquele tempo alguém saído de seu país regeria o mundo. O próprio Josefo concluiu que o oráculo tinha sido cumprido em Vespasiano[25].

11.Mas este não governou a todo o mundo, mas somente à parte submetida aos romanos. Seria pois mais justo referi-lo a Cristo, a quem o Pai havia dito: Pede-me e te darei nações como herança e os confins da terra como tua possessão[26]. Pois bem, por este mesmo tempo chegara a toda a terra a voz dos santos apóstolos e aos confins do mundo suas palavras[27].

 A ABOMINAÇÃO


 Este termo foi usado em relação aos hebreus, que, sendo pastores, dizem terem sido uma abominação aos egípcios, pois eles sacrificavam os animais considerados sagrados por aquele povo, como bois, bodes, ovelhas, etc., o que os egípcios consideravam ilícito.

Esta palavra também é empregada nas Escrituras Sagradas com referência à idolatria e aos ídolos, não apenas porque a adoração de ídolos é em si uma coisa abominável, mas igualmente porque as cerimônias dos idólatras eram quase sempre de natureza infame e licenciosa.

Por esta razão, Crisóstomo afirma que todo ídolo, e toda imagem de um homem, era chamada abominação entre os judeus.

Alguns intérpretes supõem que a “abominação da desolação” predita pelo profeta Daniel 9.27, 11.31, denota a estátua de Júpiter Olímpio, que Antíoco Epifânio mandou construir no templo de Jerusalém. A segunda passagem citada acima pode provavelmente referir-se a esta circunstância, visto que a estátua de Júpiter, de fato, “desolava,” ao banir a verdadeira adoração de Deus, e aqueles que a praticavam, do templo.

Mas a primeira passagem, considerada em todo seu contexto, tem relação mais imediata com aquilo que os evangelistas denominaram a “abominação da desolação,” Mt 24.15, 16; Mc 13.14. Isto, sem dúvida, significa as bandeiras dos exércitos romanos sob o comando de Tito, durante o último cerco de Jerusalém. As imagens de seus deuses e imperadores eram esboçadas nestas bandeiras, e as próprias bandeiras, especialmente as insígnias, que eram carregadas à frente dos regimentos, eram objetos de adoração, e, de acordo com o uso comum da Escritura, elas eram portanto uma abominação. Essas bandeiras foram colocadas sob as ruínas

do templo depois que ele foi tomado e demolido, e, como Josefo nos informa, os romanos sacrificaram a elas lá. O horror com que os judeus as consideravam, suficientemente aparece do relato que Josefo dá de Pilatos introduzindo-as na cidade, quando ele enviou seu exército de Cesaréia às bases de inverno em Jerusalém, e de Vitélio propondo marchar pela Judéia, depois de ter recebido ordens de Tibério para atacar Aretas, rei de Petra. O povo suplicava, protestava e induzia tanto Pilatos a retirar o exército quanto Vitélio a pôr em marcha suas tropas para outro caminho.

Os judeus aplicaram a passagem de Daniel acima aos romanos, como nos informa Jerônimo. O erudito Sr. Mede é da mesma opinião. Sir Isaac Newton, Obs. sobre Daniel 11:12, observa que no décimo sexto ano do imperador Adriano, 132 a.C., os romanos cumpriram a predição de Daniel ao construir um templo a Júpiter Capitolino onde o templo de Deus em Jerusalém estava localizado. Nesta ocasião, os judeus, sob a direção de Bar Cochba, pegaram em armas contra os romanos, e na guerra tiveram cinquenta cidades demolidas, novecentas e oitenta e cinco de suas melhores vilas destruídas, e quinhentos e oitenta mil homens mortos à espada, e no final da guerra, 136 a.C., eles foram banidos da Judéia sob pena de morte, e desde então a terra permaneceu desolada de seus antigos habitantes.

 Shalon!!!

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