segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Disciplina



Por hebraísmos entendemos certas expressões e maneiras peculiares do idioma hebreu que ocorrem em nossas traduções da Bíblia, que originalmente foi escrita em hebraico e em grego. Alguns conhecimentos destes hebraísmos são necessários para poder fazer uso devido de nossa primeira regra de interpretação.
Exegese é a aplicação dos princípios da hermenêutica para chegar-se a um entendimento correto do texto. O prefixo ex (“fora de” “para fora”, ou “de”) refere-se á idéia de que o intérprete está tentando derivar seu entendimento do texto, em vez de ler seu significado no (“para dentro”) texto (eisegese).
A mesma coisa pode acontecer ao traduzir-se de outras línguas se o leitor ignorar que frases como “o Senhor endureceu o coração de Faraó” podem conter expressões idiomáticas que dão sentido primitivo desta frase, algo diferente daquele comunicado pela tradução literal.

 

Paradoxo

Paradoxo é uma afirmação aparentemente absurda ou contrária ao bom senso. Um paradoxo não é uma contradição; é simplesmente algo que parece ser o oposto do que em geral se sabe. Parece um paradoxo o fato de Jesus dizer: “... quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á...” (Mc. 8:35). Geralmente, quando alguém perde alguma coisa, não a salva ao mesmo tempo. É claro que Jesus falou desse modo para enfatizar que, quando alguém faz sacrifícios por ele, de fato experimenta uma vida mais completa e agradável.


 
Ironia

A ironia é uma forma de ridicularizar indiretamente sob a forma de elogio. Com freqüência vem marcada pelo tom de voz de quem fala, para que os ouvintes a percebam. Por isso, ás vezes é difícil saber se uma declaração escrita deve ser considerada ironia. Mas normalmente o contexto ajuda a mostrar se é ou não uma ironia. Mical, a filha de Saul, disse a Davi: “... Que bela figura fez o rei de Israel...” (2 Sm. 6:20). O versículo 22 indica que o sentido pretendido era o oposto, ou seja, que ele havia-se humilhado ao agir de maneira indigna, no entender de Mical. Ás vezes a ironia vem acompanhada de humor, como no caso em que Elias zombou dos profetas de Baal: “... Clamai em altas vozes, porque ele é deus!” (1 Rs. 18:27). È claro que Elias não acreditava que o falso deus Baal realmente existisse. Ele fez um elogio a Baal em tom de ironia para incitar os profetas a orarem ainda mais alto. Isso reforçou o fato de que aquele deus falso, ao contrário de Javé, o Deus verdadeiro, nem sempre ouvia seus adoradores.


Litotes

Consiste numa frase suavizada ou negativa para expressar uma afirmação. É o oposto da hipérbole. Quando dizemos “Ele não é um mau pregador”, queremos dizer que ele é um pregador muito bom. A atenuação confere ênfase. Quando Paulo disse “... Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante...” (At. 21:39), quis dizer que Tarso era na realidade uma cidade importante. Ás vezes uma litotes é uma frase de depreciação, como vemos em Números 13:33: “Éramos aos nossos próprios olhos gafanhotos, e assim também o éramos aos seus olhos”, Lucas empregou esse recurso várias vezes. Ele comentou que “houve não pouco alvoroço entre os soldados” (At. 12:18), “não pouco lucro” (19:24) “não pequena tempestade” (27:20), e que Paulo e Barnabé permaneceram em Antioquia “não pouco tempo” (14:28). Paulo depreciou a si mesmo com uma litotes, em 1 Co. 15:9: “Porque eu sou o menor dos apóstolos”. Essa declaração de autêntica humildade foi feita para salientar a graça de Deus em sua vida, como pecador que não a merecia (veja o v.10).
 

 
Hipérbole

É uma afirmação exagerada em que se diz mais do que o significado literal com o objetivo de ênfase. Quando 10 dos espias israelitas apresentaram o relatório da incursão á Canaã, disseram: “... as cidades são grandes e fortificadas até aos céus...” (Dt. 1:28). È claro que eles não estavam afirmando que as muralhas das cidades de Canaã realmente chegavam aos céus; estavam apenas dizendo que eram descomunalmente altas.
O salmista valeu-se da hipérbole para acrescentar ênfase quando escreveu: “... todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago...” (Sl. 6:6).


Pergunta retórica

Uma pergunta retórica é aquela que não exige resposta; seu objetivo é forçar o leitor a respondê-la mentalmente e avaliar suas implicações. Quintiliano (35-100 d.C.), retórico romano, afirmou que as perguntas retóricas aumentam a força e a irrefutabilidade da prova. Quando Deus perguntou para Abraão: “Acaso para Deus há cousa demasiadamente difícil?”... (Gn. 18:14), ele não esperava ouvir uma resposta. A intenção era que o patriarca a respondesse mentalmente. O mesmo aconteceu quando o Senhor perguntou a Jeremias: “... acaso haveria cousa demasiadamente maravilhosa para mim?” (Jr. 32:27). Paulo fez uma pergunta retórica em Romanos 8:31: “... Se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Essas perguntas retóricas são formas de transmitir informações. As primeiras duas perguntas indicam que nada é impossível para Deus, e a indagação de Paulo em Romanos 8:31 diz que ninguém pode vencer o cristão, pois Deus o defende.

 


Consiste na substituição de uma expressão desagradável ou injuriosa por outra inócua ou suave. Falamos da morte mediante eufemismo: “ele passou para o outro lado”, “bateu as botas” ou “foi para uma melhor”. A Bíblia fala da morte dos cristãos como um adormecimento (At. 7:60; 1 Ts. 4:13-15).

 


Se o antropomorfismo atribui características humanas a Deus, o zoomorfismo atribui características animais a Deus (ou a outros). São maneiras expressivas e originais de salientar certos atos e qualidades do Senhor. O salmista disse: “[Deus] Cobrir-te-á com as suas penas, sob suas asas estarás seguro”. (Sl. 91:4). A imagem que vem á mente dos leitores é de pintinhos ou passarinhos protegidos debaixo das asas da galinha ou do pássaro-mãe. Jó descreveu o que considerou ser a ira de Deus contra ele quando disse: “[Deus] contra mim rangeu os dentes” (Jó 16:9).


 
Antropopatia

Esta figura de linguagem atribui emoções humanas a Deus, como vemos em Zacarias 8.2: “Tenho grandes zelos de Sião”. Também em Gn. 6:6: “Então arrependeu-se o Senhor”.


Antropomorfismo

Consiste na atribuição de qualidades ou ações humanas a Deus, como ocorre nas referências aos dedos de Deus (Sl. 8:3), a seus ouvidos (3:2) e a seus olhos (2 Cr. 16:9).



O que ocorre aqui é a atribuição de características ou ações humanas a objetos inanimados, a conceitos ou a animais. A alegria é uma emoção atribuída ao deserto, em Isaías 35:1: “O deserto e a terra se alegrarão”. Isaías 55:12 fala de montes e outeiros entoando cânticos e de árvores batendo palmas. A morte personifica-se em Romanos 6.9 e em 1 Co. 15:55.
 

 
Metonímia

A metonímia consiste em substituir uma palavra por outra. Quando dizemos que o Congresso tomou uma decisão, estamos referindo-nos a deputados e senadores. Substituímos os deputados e os senadores pela estrutura política que dirigem. Na afirmação: “A pena é mais forte do que a espada”, queremos dizer que o que se escreve (a pena) surte mais efeito do que o poderio militar (a espada). Na Bíblia, existem pelo menos três tipos de metonímia.


Hipocatástase

Esta figura de linguagem, não tão conhecida, também faz uma comparação em que a semelhança é indicada diretamente. Quando Davi disse: “Cães me cercam...” (Sl. 22:16), estava referindo-se a seus inimigos, chamando-os de cães. Os falsos mestres também são chamados cães, em Filipenses 3:2, e lobos vorazes, em Atos 20:29. As diferenças entre um símile, uma metáfora e uma hipocatástase podem ser identificadas nas seguintes frases:
Símile: “Vocês, ímpios, são como cães”.
Metáfora: “Vocês, ímpios, são como cães”.
Hipocatástase: “Seus cães”.
Em João 1:29, João Batista fez uso de uma hipocatástase: “... Eis o Cordeiro de Deus...”. Se ele tivesse dito: “Jesus é como um cordeiro” estaria usando um símile. Mas se tivesse dito: “Jesus é um cordeiro”, estaria usando uma metáfora. Quando Cristo disse a Pedro: “... Apascenta as minhas ovelhas...” (Jo. 21:17), ele chamou seus seguidores de ovelhas, usando uma hipocatástase.
O contexto precisa ser avaliado para saber o que a hipocatástase representa. Por exemplo, Jeremias disse: “um leão subiu da sua ramada” (Jr. 4:7).


 
Metáforas

È uma comparação em que um elemento, imita ou representa outro (sendo que os dois são essencialmente diferentes). Numa metáfora, a comparação está implícita, ao passo que num símile é visível. Uma pista para identificar uma metáfora é que os verbos “ser” e “estar” sempre são empregados. Temos um exemplo disso em Isaías 40:6: “Toda a carne é como a erva”. (Um símile sempre traz a conjunção como ou outras). O Senhor disse para Jeremias: “O meu povo tem sido ovelhas perdidas” (Jr. 50:6). O Senhor comparou seus seguidores ao sal: “Vós sois o sal da terra” (Mt. 5:13). Eles não eram sal de verdade; estavam sendo comparados ao sal. Quando Jesus afirmou: “Eu sou a porta” (Jo. 10:7-9). “Eu sou o bom pastor” (v.11-14) e “Eu sou o pão da vida” (6:48), ele estava fazendo comparações. Em certos aspectos, ele é como uma porta, como um pastor e como um pão. O leitor é levado a pensar de que forma Jesus assemelha-se a tais elementos.
“Existe na metáfora alguma característica comum a ambas as partes, a qual, normalmente, não é reconhecida como comum”.
 



É uma comparação em que uma coisa lembra outra explicitamente (usando como, assim como, tal qual, tal como). Pedro usou um símile quando escreveu: “... toda carne é como a erva...” (1 Pe. 1:24). As palavras do Senhor em Lucas 10:3 são um símile: “... Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio dos lobos...”. Também existem símiles no salmo 1: “Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas” (v. 3) e "são [...] como a palha” (v.4). A dificuldade dos símiles é descobrir as semelhanças entre os dois elementos. Em que aspecto o homem é como a erva? Em que sentido os discípulos de Jesus eram como cordeiros? De que forma o cristão é como uma árvore e o ímpio como a palha?

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