terça-feira, 25 de junho de 2013

A característica da lei 1

Deus sempre soube da condição do homem, mas o homem conhece sua própria condição? Posto que o pecado foi manifestado diante de Deus, ele também deve ter sido sentido na consciência do homem. Todavia, a consciência do homem está apercebida do pecado? Infelizmente, não. Porquanto o homem não percebe o pecado, precisamos do operar da lei. Neste livro vamos estudar este assunto.

Que é a lei? Em Romanos, Efésios e Gálatas, o apóstolo Paulo mostra repetidamente que o homem é salvo pela graça, não pela lei. Em outras palavras, o homem é salvo porque Deus trabalha para o homem, não porque o homem trabalha para Deus. Não é uma questão de sermos algo diante de Deus ou de fazermos algo para Deus, mas do próprio Deus vir para o nosso meio a fim de tornar-se algo e fazer algo por nós. Essa é a razão de o apóstolo, sob a revelação do Espírito Santo, constantemente enfatizar este ponto: que tanto para os gentios como para os judeus, a salvação procede absolutamente da graça e não da lei. Queremos gastar algum tempo para ver que é impossível o homem ser salvo pela lei. Não estou usando o termo lei em referência à lei mencionada no Antigo Testamento só. Lei, conforme aplico aqui, refere-se a um princípio, isto é, o princípio de o homem trabalhar para Deus. Veremos se a nossa salvação depende ou não de fazermos algo para Deus.

A maneira como utilizo a palavra lei não é sem base bíblica. O apóstolo Paulo usava as palavras de um modo muito preciso e significativo. Na Bíblia, a palavra Cristo é freqüentemente utilizada. Na língua original, algumas vezes não há o artigo definido antes da palavra Cristo. Em outras ocasiões existe um artigo definido, e neste caso podemos entendê-la como o Cristo. Infelizmente, não muitas versões traduzem isso precisamente. Outra palavra freqüentemente usada é fé. Algumas vezes há um artigo definido na frente dela; nesses lugares é a fé. Da mesma forma, existem lugares na Bíblia onde a palavra lei também tem um artigo definido antes dela, e devemos ler a lei.

Os significados dessas poucas palavras com o artigo definido são bem diferentes de seus significados sem o artigo definido. Por exemplo, quando Cristo é mencionado, refere-se ao Senhor Jesus Cristo; mas quando o Cristo é mencionado, você e eu também estamos incluídos. Quando a Bíblia fala do Cristo individual, não há artigo definido; mas ao falar do Cristo que nos inclui, encontramos o Cristo. Quando a Bíblia fala do nosso crer individual, ela usa fé, sem o artigo. Todavia, ao falar naquilo que cremos, isto é, nossa fé, ela usa a fé. Os tradutores da Bíblia sabem que sempre que a Bíblia menciona a fé, ela não está se referindo ao nosso crer normal, mas àquilo em que cremos. Que, então, é a lei? Na Bíblia, a lei sempre se refere à lei de Moisés, a lei no Antigo Testamento. Porém, se não houver o artigo definido antes de lei, esta refere-se à exigência que Deus faz ao homem.

Portanto, tenhamos em mente que lei na Bíblia não se refere meramente à lei dada a nós por Deus, por intermédio de Moisés. Em muitos lugares na Bíblia, lei refere-se ao princípio que Deus aplica a nós ou ao princípio da orientação de Deus para conosco. A lei significa apenas a lei mosaica, a lei dada no monte Sinai, ou a lei do Antigo Testamento. Ela também significa as condições para a comunhão entre Deus e o homem. A condição para a comunhão entre Deus e o homem é o andamento que Deus da ao homem, o que Ele quer que o homem faça e execute por Ele.

O homem é salvo pelas obras da lei? Deus salva o homem por que este faz coisas por Ele? Todo mundo diz que devemos fazer o bem antes de Deus nos salvar. Se pusermos isso em termos bíblicos, significa que devemos ter as obras da lei a fim de sermos salvos. Os que falam dessa maneira cometem dois grandes erros. O primeiro é que desconhecem quem é o homem. O segundo é que não compreendem qual era a intenção de Deus ao dar a lei ao homem. Se soubermos o que somos, certamente não diremos que o homem precisa ter obras da lei para ser salvo. E, se conhecermos o propósito de Deus ao dar a lei, tampouco diremos que o homem pode ser salvo pelas obras da lei. Por ter cometido esses dois grandes erros, o homem carrega um conceito errado e diz coisas erradas.

Por que o homem diz que pode ser salvo pelas obras da lei quando nem mesmo sabe o que ele é? É porque o homem não sabe quão maligno ele é; ele não sabe que é carnal. Uma vez que o homem se tornou carne, existem três coisas nele que são imutáveis: sua conduta, sua lascívia e sua vontade. Por ser carnal, o que quer que ele faça é pecado e é maligno. Ao mesmo tempo, sua lascívia interior está ativamente tentando-o, provocando-o a pecar o tempo todo. Além disso, a vontade e o desejo do homem rejeitam Deus. Uma vez que a conduta do homem é contrária a Deus, sua concupiscência incita-o a pecar e a sua vontade é rebelde contra Deus, não há possibilidade de o homem ter as obras da lei e ser obediente a Deus. Portanto, é impossível que o homem satisfaça a exigência de Deus por meio da justiça da lei.

Não temos somente nossa conduta exterior, mas também temos a concupiscência em nosso corpo; e não temos somente a concupiscência em nosso corpo, mas também temos a vontade em nossa alma. Você pode ser capaz de lidar com sua conduta, mas quando a concupiscência desperta dentro de você, mesmo que não consiga produzir uma conduta exterior pecaminosa, ela existe em você e provoca-o o tempo todo. E, mesmo que você odeie sua lascívia e se esforce ao máximo para lidar com ela, a sua vontade é totalmente incompatível com a de Deus. Nas profundezas do coração, o homem é rebelde contra Deus e quer crucificar o Senhor Jesus. Por um lado, a cruz significa o amor de Deus; mas por outro significa o pecado do homem. A cruz significa o grande amor que Deus tem ao tratar com o homem; mas ela também significa o tremendo ódio que o homem tem de Deus. O Senhor Jesus foi crucificado não apenas pelos judeus, mas também pelos gentios. A vontade do homem para com Deus nunca mudou. A vontade do homem está em total inimizade contra Deus.

Romanos 8:7-8 diz: "Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus". A mente posta na carne é inimizade contra Deus. Os que estão na carne não estão sujeitos à lei de Deus, nem mesmo o podem estar. Não compreendemos suficientemente o homem. Achamos que o homem ainda é curável e útil. Por isso, dizemos que as obras da lei ainda podem salvar o homem. Mas o homem jamais pode estar sujeito à lei de Deus; simplesmente não é nossa natureza fazê-lo. Em nossa conduta não existe o poder de ser submisso e nossa natureza não consegue ser submissa. Não somente somos incapazes de ser submissos, nós simplesmente não estamos dispostos a ser submissos. Ser incapaz de se sujeitar é uma questão da nossa natureza e da nossa lascívia; não estar disposto a ser submisso é uma questão da nossa vontade. Fundamentalmente, na sua vontade, o homem não está sujeito a Deus.

Portanto, a lei somente irá manifestar a fraqueza, a impureza e a pecaminosidade do homem. Ela não manifestará a justiça do homem. Se alguém diz que uma pessoa pode receber vida e ser justificada pelas obras da lei, esse realmente não conhece o homem. Se o homem não fosse carnal nem pecaminoso, a lei talvez pudesse dar-lhe vida. Essa é a razão de Gálatas 3:12 dizer: "Aquele que observar os seus preceitos [as obras da lei, por eles viverá". Infelizmente, os seres humanos são todos pecadores. Eles são carnais e impotentes para se sujeitarem a Deus, e não têm coração de se submeter a Deus. O homem não tem força para fazer as obras da lei nem coração para isso. A lei é boa, mas a pessoa que faz as obras da lei não é. Todos devemos admitir isso.

O homem acha que pode ser salvo pelas obras da lei porque nunca leu a Bíblia nem viu a luz ou a revelação celestial. Ele nunca compreendeu o desejo e a intenção de Deus. Ele nunca compreendeu o caminho da salvação. Se deseja saber se pode ou não ser salvo pelas obras da lei, você precisa primeiro perguntar por que Deus deu a lei. Somente depois de descobrir o propósito de Deus em dar a lei, é que você saberá se pode ou não ser salvo pelas obras da lei.

Diante de mim está um púlpito. Se lhes perguntar o que é isso, alguns podem responder que é uma cadeira alta. Uma garotinha pode responder que é uma cama faltando dois pés. Outro pode dizer que isso é uma cômoda porque existem gavetas nela. Se perguntasse a um irmão, ele poderia dizer que isso é uma estante, porque se pode colocar livros nela. Se perguntasse a dez pessoas, poderia obter dez respostas diferentes. Um vendedor de livros, por exemplo, pode dizer-me que é um perfeito balcão para vendas. Cada pessoa teria uma resposta diferente segundo sua própria experiência e conceito. Contudo, se você quer saber o que isso realmente é, em primeiro lugar precisa perguntar à pessoa que o fez. Se ela disser que isso é uma cômoda, então é uma cômoda. Se ela lhe disser que é uma estante, então é uma estante. Se disser que é um púlpito, então, sem dúvida, é um púlpito. Da mesma forma, se me perguntar ou a qualquer outro qual é a função da lei, você está perguntando à pessoa errada. A lei foi dada por Deus, por isso temos de perguntar a Deus qual a sua função. Uma vez que Deus nos diga qual a Sua intenção em dar a lei, saberemos se o homem pode ser salvo pelas obras da lei ou não. Portanto, precisamos gastar algum tempo para examinar a Bíblia sobre essa questão. Precisamos ver passo a passo como a lei veio. Temos de ver historicamente a partir do registro da Bíblia por que Deus deu a lei ao homem.

A primeira coisa que devemos ver é que a lei não foi de modo nenhum a intenção original de Deus. A lei foi acrescentada posteriormente; ela foi introduzida para satisfazer certas necessidades urgentes. Ela foi produzida para cuidar de coisas que foram introduzidas ao longo do percurso. A lei não estava na intenção original de Deus; a graça estava. Em 2 Timóteo 1:9-10 é dito: "Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho". Aqui o apóstolo Paulo diz-nos que Deus tinha um pensamento, e que esse pensamento começou antes dos tempos eternos, antes da criação do mundo. Esse era o pensamento original de Deus. E que tipo de pensamento era? Paulo diz que essa graça foi-nos dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos. Antes dos tempos eternos, antes de o homem pecar, e até mesmo antes da criação do mundo, Deus já havia tomado a decisão de dar-nos Sua graça por meio de Cristo Jesus. Portanto, a graça era o pensamento original de Deus. Era algo que Deus planejou desde o início de tudo.

Por que Deus quis dar-nos a graça? Paulo diz que Deus "nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça". A vontade de Deus é dispensar Sua graça, e essa graça nos salva. Ele nos salvou e nos chamou com santo chamamento para que desfrutemos Sua glória. É isso que a graça de Deus está fazendo. Ele desejou salvar-nos e chamar-nos com santo chamamento segundo o Seu propósito, segundo o que Ele planeja fazer. Aqui Paulo foi muito cuidadoso; ele acrescentou uma frase para mostrar-nos se a lei está ou não de acordo com o propósito de Deus. Ele diz: "Não segundo as nossas obras". A salvação de Deus não é de acordo com o quanto podemos fazer por Deus; não é segundo o quanto de responsabilidade podemos assumir diante Dele. Pelo contrário, é Deus vindo cumprir algo por nós, e é Deus dando-nos Sua graça. Essa graça sempre esteve relacionada com o Seu plano. Assim, lembremo-nos de que antes dos tempos eternos, o pensamento de Deus era a graça, não as obras nem a lei.

Paulo continua: "Que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus". Essa graça não havia sido manifestada até agora. Portanto, vejam que, embora essa graça estivesse planejada há muito tempo, foi somente quando o Senhor Jesus veio que conhecemos o que realmente a graça era. Que faz essa graça por nós? "O qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho". Quando o Senhor Jesus foi manifestado, Ele aboliu as obras bem como o resultado das obras. O resultado de obras más é a morte. Mesmo que você tenha feito as piores obras, o máximo que a lei pode fazer é exigir a sua morte. Após sua morte, a lei nada mais pode fazer.

Você poderia perguntar: "Que acontece se minhas obras não violaram a lei? Ainda assim preciso morrer?" Sim, você precisa. Mas o Senhor também anulou a morte. O Senhor aboliu as obras e também a morte. Esse é nosso evangelho, o qual foi planejado antes dos tempos eternos, embora não tenha sido manifestado até o aparecimento do Senhor Jesus. Assim, o pensamento fundamental de Deus era a graça.

Após o homem ter sido criado, tanto Adão como Eva pecaram e se rebelaram. O pecado entrou no mundo por meio de um homem. Mas Deus não deu a lei ao homem naquele tempo. Mesmo por um período de aproximadamente mil e seiscentos anos após o homem ter pecado, Deus não deu a lei ao homem. Deus não teve exigências com o homem naquele período. Deus permitiu à história que tomasse seu curso natural. Então um dia, quatrocentos e trinta anos antes de Moisés instituir a lei, Deus falou a Abraão, o pai da fé, e escolheu-o para ser aquele por meio de quem Cristo viria ao mundo. Deus escolheu Abraão e deu-lhe a grande promessa de que todas as nações seriam abençoadas pelo seu descendente (Gn 12:3; 22:18). Note que descendente é singular, não plural; é um descendente, não muitos descendentes. Paulo explicou no livro de Gálatas que este descendente refere-se ao Senhor Jesus (Gl 3:16). Quando falou a Abraão, foi a primeira vez que Deus revelou Seu propósito que fora planejado antes dos tempos eternos. Deus lhe contou Seu propósito de antes dos tempos eternos, de que por meio de seu descendente, Jesus Cristo, as nações seriam abençoadas. Abraão era um idólatra, contudo Deus o escolheu e deu-lhe uma promessa. Ele foi o primeiro homem a não ter obras; ele era uma pessoa de fé. Portanto, Deus desvendou Seu propósito diante dele.

Após palavra ser dita, Cristo, o Filho de Deus, não veio imediatamente ao mundo. Abraão gerou Isaque, mas Isaque não veio salvar o mundo. Isaque não era ''o'' Filho de Deus. Quatrocentos e trinta anos mais tarde, Moisés e Arão surgiram. E, embora fossem pessoas muito boas, não eram o Cristo de Deus. Por meio da revelação de Deus, Paulo chamou-nos a atenção de que o descendente de Abraão não se refere a muitos descendentes, mas a um único, que não veio senão dois mil anos mais tarde. Há um motivo forte para que o descendente não viesse antes. É verdade que Deus deseja fazer coisas para o homem, que Ele quer dar graça ao homem. Entretanto, estaria o homem disposto a permitir que Deus faça coisas para ele? Deus vê que não estamos indo bem, e quer ajudar-nos; mas ainda podemos achar que somos muito capazes. Somos maus, mas podemos achar que somos bons. Somos imundos, mas podemos considerar-nos limpos. Somos fracos, mas ainda podemos considerar-nos fortes em tudo. Somos inúteis, mas ainda podemos considerar-nos úteis. Nós, seres humanos, somos pecaminosos e completamente incapazes, mas ainda podemos considerar-nos bons e úteis. O propósito de Deus desde antes dos tempos eternos era dar graça, e, no tempo, Ele disse a Abraão que de fato daria graça ao homem. Mas por ser o homem ignorante, fraco, inútil, pecaminoso, e digno de morrer e perecer, Deus não teve escolha, senão dar a lei ao homem quatrocentos e trinta anos depois que Ele fez a promessa a Abraão. Após dar a lei ao homem, o homem descobriu que era pecaminoso. Deus pôs a lei ali ''para descobrir se o homem é correto ou não e se é capaz ou não''. Deus pôs o peso da lei ali para ver se o homem poderia ou não levantá-lo. Lembremo-nos de que dar a lei não era a intenção original de Deus. Devo enfatizar que a lei foi algo acrescido para ir ao encontro de uma necessidade temporária. Não fazia parte da intenção original de Deus.

Vejamos o que diz Gálatas 3:15-22. Devemos considerar cuidadosamente estes versículos, pois são muito importantes. O versículo 15 diz: "Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa". Deixemos momentaneamente de lado a aliança do homem com Deus, e consideremos primeiro as alianças que os homens celebram entre si. Suponhamos que alguém esteja vendendo uma casa, e um contrato tenha sido firmado e assinado. Pode o vendedor pensar melhor mais tarde e pedir mais duzentos dólares? Após assinar o contrato, pode ele considerar um pouco mais e, então, romper o contrato? Não. Mesmo em contratos entre os homens, uma vez que estejam assinados, é impossível acrescentar condições a eles ou subtrair condições deles. Se um contrato entre homens é assim, quanto mais uma aliança entre Deus e o homem!


Shalon !!!

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